Freguesia de Terra Chã

População: 3000

Actividades económicas: Serviços, agro-pecuária, comércio, pequena indústria, carpintarias, aviários, construção civil e fruticultura

Festas e Romarias: N. Sra. de Belém (1 de Janeiro), Espírito Santo, Santo António (1.º domingo de Agosto), Festa da Castanha (fins de Outubro) e Semana Cultural (Agosto)

Património: Igreja paroquial, ermidas de N. Sra. da Boa Hora, de N. Sra. dos Prazeres, de N. Sra. de Fátima, de Santa Luzia, de N. Sra. do Rosário, de N. Sra. da Paz e de N. Sra. da Guia, chafarizes, impérios do Terreiro, Canada de Belém, Boa Hora e do Bairro, quintas senhoriais e assentos de Lavoura

Outros Locais: Miradouro das Veredas, lugar da Matela, percurso a pé da Matela, Museu do Fósforo e o Arado

Gastronomia: Sopas do Espírito Santo, alcatra de carne e castanha Viana (fruto típico)

Artesanato: Miniaturas em madeira (carros de bois e outras alfaias agrícolas) e rendas e bordados

Colectividades: Soc. Musical de Recreio de Terra Chã, Casa do Povo, Clube Desportivo de Belém e Coro Tibério Franco

 

Orago: N. Sra. de Belém

 

DESCRITIVO HISTÓRICO

A noroeste da cidade de Angra do Heroís-mo, a freguesia de Terra Chã chamou-se incialmente Belém. O nome actual tem a ver com a sua situação geográfica, numa encosta da serra do Charcão.

A freguesia foi criada pelo alvará régio de D. João VI de 6 de Setembro de 1825. Dizia assim o texto do documento: “Faço saber que os moradores do lugar da Terra Chaa, freguezia de São Pedro da Cidade de Angra, na ilha Terceira, me representarão que a sua povoação se compunha de mil tresentos cincoenta e hum moradores, compreendidos em duzentos e tres fogos, distantes da ditta freguezia quaze duas léguas, e que no referido Lugar havia huma irmida da invocação de Nossa Senhora de Bellem, com hum cura, o qual não pode só acudir ao pasto espiritual dos supllicantes, seguindo-se-lhes grave incommodo em o buscarem na freguezia pelo que me pedião fosse servido erigir-lhes a dita ermida em parochia creando-se a fabrica necessaria e conservando-se o curato existente á semelhança de mais parochias do bispado. (...) Hei por bem e me praz fazer-lhes mercê de erigir em paróquia a Irmida de Nossa Senhora de Bellem.”

Conforme se pode ver pelo texto do documento, Terra Chã foi inicialmente um curato da paróquia de S. Pedro, em 1674, com sede na ermida em cujo local hoje se encontra a igreja paroquial. Foi Sebastião Álvares o promotor de tal construção, cumprindo assim uma promessa feita em hora de aflição.

Quanto à igreja paroquial, viria a ser construída a partir de 21 de Novembro de 1846, data do lançamento da primeira pedra. Era uma obra que se justificava plenamente, visto que a pequena ermida de Sebastião Álvares já não respondia às necessidades de culto das populações locais. Após onze anos, o templo estava pronto. Foi inaugurado com grande pompa e circunstância. O retábulo da capela-mor é o seu elemento mais antigo. De estilo barroco, remonta ao século XVII. As duas capelas laterais, por seu lado, são ornadas por retábulos barrocos oitocentistas e vieram do extinto convento de S. Jorge. Do espólio da igreja, devem destacar-se várias custódias em prata, o turíbulo e a caldeirinha e um presépio em cortiça do estilo Machado de Castro.

Além da igreja paroquial, merece referência uma longa série de ermidas, que povoam toda a freguesia de Terra Chã. São cinco, actualmente, mas já foram mais. Além das que passamos a caracterizar, existiram outras três que caíram em ruína com o decorrer dos anos: a Ermida de Nossa Senhora da Nazaré, cujo altar está hoje na Capela de Nossa Senhora de Fátima; e duas consagradas a Nossa Senhora da Conceição, na Fonte Faneca (setecentista) e no Caminho dos Regatos.

A Ermida de Nossa Senhora da Boa-Hora encontra-se no largo do mesmo nome. Foi erigida em 1860 pelo cónego Manuel Ferreira de Melo. Dela restam apenas as paredes, depois do grande terramoto de 1980. Foi aqui que se realizou o primeiro casamento da freguesia, em 28 de Setembro de 1835.

A Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres, na quinta do mesmo nome, foi fundada por Remigio Noblete em 1680. Nela merece destaque o interior, com dois vitrais que representam as imagens do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora de Lourdes. Na parte exterior, o pórtico principal é também digno de nota.

A Ermida de Nossa Senhora de Fátima, na Canada do Rolo, foi mandada construir por Francisco de Sá Salazar e sua consorte, em 1675. O orago era então S. Francisco Xavier, mas com o decorrer dos séculos a devoção à Virgem impôs-se claramente. Arruinada pelo grande terramoto de 1980, foi restaurada doze anos depois. No altar, encontra-se a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Sobrepujam a porta diversos azulejos com a gravura da aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos, na Cova da Iria.

A Ermida de Santa Luzia, fundada anteriormente a 1696 por Sebastião de Andrade Teixeira, e a Ermida de Nossa Senhora do Rosário, erigida nos finais do século XVIII por José Joaquim Pinheiro, foram profundamente destruídas pelo terramoto de 1980, encontrando-se porém já reconstruídas pelos actuais proprietários.

Em 1828, decorreram, na Terra Chã, sangrentas batalhas entre as tropas absolutistas, partidárias de D. Miguel, e os fiéis de D. Pedro IV, adeptos do liberalismo. Ao dirigir-se para as Doze Ribeiras, um emissário liberal foi atacado e teve de refugiar-se na casa de um tal André Lemos. Os absolutistas decidiram então queimar toda a casa, ficando o lugar conhecido como Lugar das Casas Queimadas. Outro dos lugares da freguesia, o das Guerrilhas, tem origem exactamente no mesmo conflituoso período da história nacional.

Com cerca de três mil habitantes, Nossa Senhora de Belém da Terra Chã é uma freguesia mais urbana que a maioria deste concelho de Angra do Heroísmo. Nela funciona um Departamento da Universidade dos Açores, onde são ministrados os cursos de Engenharia Agrícola, Zootecnia, Ambiente e Educadores de Infância.

No passado, Terra Chã era uma freguesia ainda mais agrícola do que hoje. O panorama económico da terra era assim descrito pelo Pe. Jerónimo Emiliano: “Eis a última, a mais bela, rica, e amena de todas as freguesias da Ilha Terceira. A abundância de suas excelentes frutas, a riqueza de seus vastos laranjais, as grandes quintas, e pomares de que é povoada, com a vantagem de possuir muito perto alguns chafarizes de água nativa, com razão a constituem o melhor jardim dos Açores, e a paisagem mais encantadora deste arquipélago. Numa palavra desde o caminho de Belém até às Garridas, extremo da freguesia para a parte da terra, não se encontram senão bosques de laranjais, algumas terras lavradias, arvoredos, casas muito bem construídas com seus redutos de vinhas, e de diferentes planos. (...) Enquanto se admira a beleza e a fisionomia de cada uma das árvores, e a simetria, guarda na sua plantação, ao mesmo tempo, a imaginação se perde deslumbrante à vista de tanta riqueza, com que a natureza ali compensa as fadigas, que se tem tomado no aperfeiçoamento daqueles campos”