Freguesia de Santa Cruz das Flores População: 2000

Actividades económicas: Agro-pecuária, hotelaria, prestação de serviços, pescas, oficinas, construção civil, comércio, lacticínios e restauração

Património: Igreja matriz, igreja de Nossa Senhora de Lourdes, convento de S. Boaventura, casa-museu Pimentel de Mesquita e casas do Espírito Santo

Gastronomia: Sopa do Espírito Santo, inhame com linguiça, molho Afonso de lapas, tortas de ervas do mar, feijão branco com cabeça de proco, pão de milho, bolo de tijolo, pão adubado e filhós

Artesanato: Trabalhos em madeira e hortênsias e cestaria em vime

Colectividades: Filarmónica, Grupo de Teatro, Clubes Desportivos, Sociedade, Tuna e Associação Humanitária dos Bombeiros

Orago: Nossa Senhora da Conceição

DESCRITIVO HISTÓRICO


É a sede do concelho de Santa Cruz das Flores e é composta pelos lugares de Vila, Fazenda d’Além, Monte, Vales e Ribeira dos Barqueiros.

Encontra-se situada no litoral noroeste da ilha das Flores. É limitada ao norte, oeste e sul pelas freguesias de Cedros, Fajã Grande e Caveira, respectivamente, e ao leste pelo oceano Atlântico.

A primeira tentativa de povoamento da ilha ocorreu por volta de 1480, na foz da Ribeira da Cruz. Comandava essa expedição o fidalgo flamengo Guilherme da Silveira, que segundo reza a história terá permanecido na ilha à volta de dez anos, acabando por abandonar as Flores, já que o que encontrou não o satisfez plenamente. A segunda tentativa terá ocorrido em 1508-10 na costa da actual freguesia e vila de Santa Cruz.

Houve diversos naufrágios à volta das Flores e um dos mais famosos ocorreu perto da foz da Ribeira da Cruz, que pertence à Fajã do Conde, em 1873, com a barca Modena, comandada pelo capitão William Lang e onze homens, que sobreviveram e gravaram uma inscrição em um rochedo, que acabaria por servir como o mais eloquente testemunho do naufrágio.

Um dos miradouros mais bonitos da freguesia, e só por ele estaria justificada uma visita a Santa-Cruz, é o do Monte das Cruzes. Dali se vê toda a vila e arredores. Perto, encontra-se uma casa senhorial que, continua a dizer o povo, está amaldiçoada desde que o primeiro proprietário foi obrigado a abandoná-la.

Em termos de património edificado, uma palavra para o convento de S. Boaventura, actual sede do museu Pimentel de Mesquita e, por isso mesmo, local de reunião da história do concelho. Começou a ser construído em 1642, fruto de um voto feito pelo Pe. Inácio Coelho, natural das Flores, aquando do feliz sucesso da revolução de 1640, que permitiu a Portugal alcançar a independência perdida oitenta anos antes. A sua igreja possui altares barrocos e tecto em madeira de cedro em tempra.

Quanto à igreja matriz, dos primórdios do século XIX, tem uma das mais imponentes fachadas de toda a região. É dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Templo de grandes proporções, foi construído em 1871, no mesmo local onde existia uma pequena ermida, que se supunha do século XVI.

O único hospital de toda a ilha foi fundado no convento por volta de 1870, após os franciscanos terem sido expulsos em 1834 e este ter sido vendido em hasta pública e comprado por António Vicente Peixoto Pimentel, que o transformou em hospital. Quando aqui se estabeleceu a Estação Francesa de Telemedidas em Santa Cruz das Flores, foi demolida uma parte do convento e construído paredes meias um edifício completamente novo, e para a época um dos mais modernos da região a nível de equipamentos e condições para o tratamento de doentes na ilha.

A antiga fábrica baleeira representa a arqueologia industrial da ilha. Ali se encontra um pouco da memória do que foi a época áurea da indústria baleeira na freguesia e na ilha, antes da proibição da caça àquele animal. De resto, a pesca foi sempre de grande importância para os habitantes da freguesia, possuindo este três portos, e a própria fisionomia da vila é elucidativa, as suas ruas são orientadas para o mar, ligadas por transversais.

A agro-pecuária e os lacticínios também fazem parte integrante da história da freguesia, com grande destaque para os lacticínios, que tiveram um grande surto de desenvolvimento no século passado, e que provocaram atritos entre os principais industriais do sector, com direito a artigos na imprensa, e que acabou por ficar conhecida como a guerra da manteiga. Em contrapartida, este grande desenvolvimento dos lacticínios fez descer grandemente a produção de cereais, pois os proprietários preferiam ter pastagens a terras de semeadura.

Hoje, com cerca de dois mil habitantes, a freguesia de Santa Cruz das Flores é a mais urbana da ilha, e sendo sede de concelho, concentra grande parte do comércio da ilha e serviços públicos. De resto, a hotelaria, a restauração e o turismo desempenham um papel fundamental na economia da freguesia e da ilha.

Por todas estas razões económicas, Santa Cruz foi das freguesias que menos sentiu o impacto do fenómeno migratório de meados deste século. Nas outras freguesias, o número de habitantes reduziu-se praticamente para metade. Nesta vila, manteve-se. Tinha dois mil e cem habitantes em 1940, tem cerca de dois mil actualmente.

Em “Viagens na Nossa Terra”, das Selecções do Reader’s Digest, o escritor local João Vieira descreveu as belezas da freguesia: “Prossiga na estrada para o Monte, sobranceiro à vila, de Santa Cruz, outrora habitado por pescadores e baleeiros, cujas casas simples e graciosas estão sendo adulteradas. Do cimo, tem-se uma panorâmica da vila e de parte da baía. Da Cruzinha das Almas, na descida para o vale da Fazenda de Santa Cruz, vemos um trecho de costa com vários lados, encantadores pelo alinhamento e desalinhamento dos ilhéus que salpicam a costa. Na linha do horizonte, rodeado de nuvens, está o Corvo, com a sua eterna solidão. (...) Visite o parque natural da Fazenda de Santa Cruz, com o seu micro-clima que permite o desenvolvimento de grande quantidade e variedade de espécies da flora azórica e um notável conjunto de espécies exóticas dos cinco continentes. Pássaros e aves de rara beleza acompanham o trajecto que termina no Curral dos Gamos. Nas duas encostas do vale, frondosas acácias e eucaliptos, sai um rebanho de ovinos e da raça do mato, espécie que existia nas regiões mediterrânicas da Europa e que se crê ter sido lançada na ilha por ordem do infante D. Henrique antes do povoamento da mesma. Este parque é excelente para piqueniques. Siga a estrada dos vales. A travessia de Monte de Cima oferece uma visão da vila. Corte no caminho que dá para o monte das Cruzes. Do cimo, terá uma bela panorâmica da vila e dos arredores dos Barqueiros e da minúscula planície dos Vales, com as habitações simples alinhadas ao longo da ribeira. Em baixo, fica a baía da Ribeira da Cruz, delimitada a sul pelos penhascos da costa, que formam as grutas de Fernão Jorge, de Incharéus e da Ponta da Caveira”.