buxoUm estudo publicado na revista Arquipélago, da Universidade dos Açores (OLIVEIRA, J.N.B. (1985), "Espécies vegetais usadas nos Açores na formação de sebes", “Arquipélago, Série Ciências da Natureza”, 6: 71-79), da autoria de José Norberto Brandão Oliveira, refere as principais espécies e características dos abrigos encontrados nos Açores.

O autor refere que se aceita “como certo que a experiência adquirida pelos agricultores ao longo das gerações levou à selecção das espécies mais indicadas para este ou aquele caso.

Assim e numa panorâmica muito geral, em sebes localizadas não muito junto ao mar e para pomares, as três espécies mais usadas são. o incenso, a bâncsia e a faia; em parcelas mais próximas da costa utilizam-se muito a cana vulgar e o metrosídero; em parcelas de altitude, onde a pastagem é quase exclusiva, predominam as sebes de criptoméria e hortênsias (urze, em S. Jorge). Em parcelas muito junto à costa o critério de selecção usado foi sobretudo o grau de resistência das espécies aos ventos carregados de salinidade. Onde estas condições não se faziam sentir (mais para o interior) seguiram-se sobretudo os seguintes parâmetros: 1) rapidez de crescimento e vigor; 2) densidade da folhagem e sua persistência (as espécies caducifólias apenas são usadas em sebes mistas); 3) profundidade de enraizamento e facilidade de propagação; 4) maleabilidade à poda e o facto de poderem ou não ser portadoras de doenças ou insectos prejudiciais às culturas que abrigam”.

 

SEBES ALTAS DE PROTECÇÃO DE FRUTÍCOLAS
Incluem-se neste grupo todas as sebes perfeitamente organizadas, em geral bastante altas (entre 2 e 5 metros) e sujeitas a cortes periódicos. Servem para protecção de pomares contra a agressividade dos ventos. O seu uso é de tal modo imprescindível e está tão generalizado que é impossível encontrar no arquipélago um pomar ou bananal que não esteja protegido. As principais culturas frutícolas protegidas são: a bananeira anã (Musa acuminata Colla «Dwarf Cavendish», syn. Musa cavendishi Lamb.); a laranjeira, Citrus sinensis (L.) Osbeck; o limoeiro, C. limon L.; a tangerineira, C. deliciosa Ten.; a mandarineira, C. nobilis L.; a macieira ou pereiro como é conhecido localmente, Malus domestica Borkh.; a pereira, Pyrus communis L.; e com menor expressão, a ameixeira, Prunus domestica L. e o pessegueiro P. pérsica (L.) Batsch.
As principais espécies que extremes ou em consociação formam este tipo de sebes, relativamente abundantes por todo o arquipélago são, por ordem decrescente de importância:


Pittosporum undulatum Vent.— Incenso ou pitosporo. Espécie de origem Australiana, foi introduzida no arquipélago, precisamente para a constituição de sebes, há mais de 150 anos. Hoje encontra-se perfeitamente naturalizada em todas as ilhas, entre 0 a 60 metros de altitude, não sendo todavia muito resistente ao «salgado».

Banksia integrifolia L. — Bânceia ou cigarrilheíra. Espécie bastante resistente e de crescimento bastante rápido.

Myrica faya Ait. — Faia ou Faia da Terra. É um endemismo macaroneso-hispânico. Ocorre era todas as ilhas e foi outrora a espécie mais utilizada para formar sebes para protecção de citrinos, quando nos Açores esta cultura tinha uma enorme dimensão. Actualmente o seu uso está em franca decadência.

Metrosideros robusta Cun. — Metrosídero. Espécie introduzida, que se mostrou ao longo dos tempos excelente para sebes do litoral, situadas junto ao mar, pois resiste muito bem ao «salgado» ou «rocio»,


E com muito menor frequência, geralmente nunca estremes, e apenas em algumas ilhas, as espécies:
Camellia japonica L. — Cameleira, roseira do Japão ou japoneira. Embora de crescimento muito lento, forma abrigos relativamente altos, alguns dos quais, em S. Miguet ultrapassam os 3,5 metros de altura. Foi também era tempos muito utilizada no Faial (Flamengos, Horta).

Pittosporum tobira (Thunb.) Ait. —Faia da Holanda ou Faia do Norte. Outrora bastante utilizada esta espécie, em S. Jorge e Faial, na costa norte, tem vindo a ser posta de parte.

Laurus azorica (Seub.) Franco (— Persea azorica Seub.) — Loureiro, louro manso, louro da terra, louro bravo ou louro de cheiro. Endemismo macaronésico, cujo uso em sebes de há muito tem vindo a ser posto de parte sobretudo porque esta espécie apresenta como regra curta duração, Ainda subsiste era consociação por exemplo em S. Miguel (Capelas).

Corynocarpus laevigatus Forster — Loureira ou barrileíro. Cada vez menos utilizado, em parte porque o seu fruto é hospedeiro da mosca do mediterrâneo, terrível inimigo dos laranjais e outras fruteiras.

 

SEBES DE PROTECÇÃO E/OU COMPARTIMENTAÇÃO
Incluem-se neste grupo as sebes como regra mais baixas, excepção feita para o caso da Criptoméría em pastagens, e que são usadas na divisão de quintais, parcelas de pastagem, plantações de vinha e em áreas destinadas à cultura hortícola e/ou arvense. Também se incluem aqui as sebes de «embelezamento» situadas nas bermas de caminhos e estradas.


A)   Em PASTAGENS  as principais espécies utilizadas, como cortinas de abrigo e/ou divisórias, são:


Cryptomeria japonica (L. fil.) D. Don — Criptoméría, clica, crica, cricomé, titomé ou cedro do Japão. É largamente utilizada como abrigo nas pastagens de altitude e até ao nível das estradas, nas regiões mais altas, A sua instalação traz indiscutíveis benefícios no que respeita ao abrigo do gado. Por isso mesmo e embora seja apenas em S. Miguel que a extensão de sebes de Criptoméría atinge já grande dimensão, aquela prática tem merecido especial fomento noutras ilhas. Julga-se que esta espécie foi introduzida no arquipélago por volta de 1860, mas hoje ela ocorre já espontânea em muitas ilhas. Muito raramente a Criptomeria pode ainda ser vista formando sebes em pomares (Povoação, S. Miguel).

Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. — Hortênsia, Novelão. Ocorre largamente como subespontánea por todo o arquipélago. Em todas as ilhas é usada para ornamentar estradas e dividir pastagens, desde baixa a média-grande altitude.

Erica scoparia L. subsp, azorica (Hochst.) D. A. Webb.—Urze, vassoura, barba de mato. Utilizada apenas em altitude a separar parcelas de pastagem e apenas na ilha de S. Jorge, onde estas sebes constituem importante abrigo para o gado e até para a própria pastagem. Em alguns locais podem ver-se associados à urze alguns indivíduos da Juni-perus oxycedrus L., zimbro,

Arundo donax L. — Cana. Frequente em sebes junto i costa (até à beira da rocha) muitas vezes em parcelas que outrora foram de vinha ou de cultura arvense. Maior utilização em S. Miguet e Faial.

B) Em quintais, parcelas de cultura hortícola ou arvense e nas bermas das estradas, as espécies mais frequentes são:

Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. — Hortênsia, Novelão. — Frequente em todas as ilhas, à beira das estradas., constituindo verdadeiras sebes de embelezamento.

Hibiscus rosa-sinensis L. e H. syriacus L. — Rosas da China ou hibiscos. Relativamente frequente em S. Miguel sobretudo em sebes que confinam com estradas ou caminhos; menos comum nas outras ilhas.

Elaeagnus umbellata Thunb. — Groselha, tamarinos. Relativamente frequente em S. Miguel.

Buxus sempervirens L. — Buxeiro. Espécie de crescimento muito lento e por isso mesmo dc utilização muito restrita (S. Miguel, Faial).

Tamarix africana Poír. — Tamargueira, salgueiro (designação imprópria). Espécie muito resistente ao «salgado» e por isso mesmo utilizada em sebes que se situam próximo do mar. Pouco frequente em S. Miguel é no entanto mais usada noutras ilhas (Santa Maria, Faial e Terceira, sobretudo).

Ligustrum vulgare L. — Ligustro. S. Miguel e Terceira, raramente também em divisórias de pastagens.

Bambusa sp. — Cana da índia ou bambu. Utilização muito restringida a determinados locais (por exemplo Ribeira Quente, S. Miguel). Por vezes também a dividir pastagens,

Myoporum acuminatum Brown — Mióporo. Muito utilizado em sebes no continente português, aparece também embora muito raramente era S. Miguel (R, Grande), Santa Maria (Aeroporto) e Terceira.

Escallonia macrantha Hook. & Arnott. — Escalónia. Pequenas sebes, na Terceira.

Com um carácter muito localizado observa-se ainda em S. Miguel, pequenas sebes de:

Tecomaria capensis (Thunb. Spach (— Bígnonia capensis Thunb.) — Bigónia ou Alegria dos velhos.

Psidium guineense Swartz e P. cattleyanum Sabine — Araçá amarelo e araçá roxo, respectivamente.

Cedrus spp. e Cupressus sempervírens L. — Cedros e cipreste, respectivamente.

 

Em certas ilhas se utilizam junto às divisórias de algumas parcelas ou nas bermas de caminhos, algumas espécies vegetais que sem formarem uma sebe contínua e com carácter organizado dão contudo um aspecto diferente à paisagem. As mais importantes de entre estas espécies são:

Ailanthus altíssima (MÜl.) Swingle — Aílanto. S. Miguel, Pico e Graciosa.

Sambucus nigra L. — Sabugueiro ou rosa de bem fazer.

Salix X rubens Schrank — Vime, vimeiro-francês. Aproveitam-se os lançamentos vegetativos para fazer cestos e diversos artigos de artesanato em vime (S. Miguel, frequente entre parcelas de vinha).

Leycesteria formosa Wall — S. Miguel, nas bermas de caminhos.

Agave americana L, — Piteira. Santa Maria.

Opuntia ficus-índica (L.) Miller — Babosa. Santa Maria.

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