No princípio da povoação desta ilha, sendo terceiro Capitão dela Rui Gonçalves da Câmara, primeiro do nome e filho segundo do primeiro Capitão da ilha da Madeira João Gonçalves Zargo, veio dela um Fernão de Ãnes Tavares, que era primo-irmão de Simão de Sousa Tavares, filhos de dois irmãos, naturais de Portalegre. Este Simão de Sousa Tavares foi alcaide-mor de Aveiro, homem muito discreto, de que por suas boas partes el-Rei D. Manuel e D. João, terceiro do nome, faziam muita conta; o qual depois de viúvo se fez frade capucho, deixando o mundo e largando o morgado a um filho que tinha, por nome D. Francisco Tavares de Sousa, e a alcaidaria-mor, que o dito D. Francisco serviu e não sei se ainda agora serve, mas sendo de mediana idade foi à Índia, onde fez famosas e heróicas obras, servindo de capitão; e depois de velho se veio aposentar em Aveiro, muito rico e nobre fidalgo. Duas filhas que tinha Simão de Sousa Tavares, foram freiras professas e virtuosas religiosas no mosteiro de Santa Clara em Coimbra, onde as vinha ele visitar depois de frade, muito velho e santo, vestido em um hábito de pobre e baixo burel, que andando no mundo se não contentava com ricos vestidos de fina seda; e quando vinha à corte, por el-Rei D. Manuel saber dele quem era e como deixara o mundo, lhe fazia muitas mercês e honras e lhe beijava o hábito. E desta maneira viveu com muita virtude e exemplo de vida, até que se acabaram seus dias no mosteiro dos Capuchos.
Quando começou a reinar D. João, terceiro do nome, tinha Fernão Tavares, pai de Fernão de Ãnes Tavares, dois irmãos, chamados um e outro João Tavares; e, sendo criados do Infante D. Fernando, moços fidalgos de sua casa, os chamava o dito Infante para falar com eles, o que lhe relevava, e às vezes mandando chamar a um, vinha o outro, por serem ambos de um nome; pelo que disse ao mais velho: — já que vos chamais João Tavares, como vosso irmão, para que conheça qual de vós outros mando chamar, vos dou cargo da copa e vos faço meu copeiro-mor. E daí por diante dizia: — chamem cá o João Tavares da Copa, que lhe ficou por apelido. E os filhos e netos dele que chamavam Tavares da Copa, eram nobres fidalgos em Aveiro, alguns dos quais foram ao descobrimento da Índia e lá morreram com muita honra e bom nome em serviço de el-Rei.
Houve em Portalegre grandes diferenças e bandos antre duas gerações, Tavares e outra a que não soube o nome, sobre uma mulher fidalga e muito rica, da geração dos Tavares, que foi tirada falsamente de casa de seu pai e contra vontade de todos seus parentes; e por força a fizeram casar com um filho do fidalgo que a tirou, que era muito pobre e de menos valia que o pai da moça; onde se mataram sete ou oito pessoas e feriram mais de trinta. E porque o dito Fernão de Ãnes Tavares era irmão do pai da moça, foi culpado na morte destes homens, que também eram pessoas de muita qualidade e muito aparentados, e se absentou como outros parentes para diversas partes. Ele foi para a ilha da Madeira, onde casou com Isabel Gonçalves de Morais, mulher nobre, natural da dita ilha, das principais dela; com que sabendo quem ele era, lhe deram bom dote; e daí veio ter com o dito Capitão Rui Gonçalves da Câmara, que comprou esta ilha, para ela, com grande família, que o servia; onde, pelo não conhecerem que era Tavares, se chamou Fernão de Ãnes, somente, por serem os Tavares buscados e mandados por el-Rei prender; e achando alguns destes, que sabiam haver fugido de Portalegre, faziam justiça neles, porque traziam seus contrários solícitos requerimentos na corte; e pela mesma razão foi Fernão de Ãnes Tavares morar à Ribeira Seca, termo da Ribeira Grande, que ainda não era vila, por ser sertão apartado do porto do mar, por não ser conhecido, onde teve suas fazendas e casas, que agora possuem seus descendentes. O qual houve de sua mulher quatro filhos: João Tavares, Rui Tavares, Anrique Tavares e Gonçalo Tavares; e três filhas: Guiomar Fernandes Tavares, Filipa Tavares e Ana Tavares. E como era generoso, não curava de adquirir tanto para guardar, quanto para gastar, que segundo era aceito ao Capitão, por saber secretamente quem ele era e ver nele partes para isso, seus descendentes foram os mais ricos de toda a ilha; mas ele não procurava muito para si, nem descobria a ninguém quem era, ainda que suas obras mostravam sua nobreza e fidalguia.
João Tavares, primeiro filho de Fernão de Ãnes Tavares, faleceu em África, mancebo solteiro, sendo discreto e bom cavaleiro, a quem o Capitão queria muito.
O segundo filho, Rui Tavares, mandou também seu pai a África servir el-Rei em Arzila e Tânger, donde veio feito cavaleiro por estromento e alvará do mesmo Rei; grande cavaleiro e judicial; e casou nesta ilha com Lianor Afonso, filha de Francisqueanes, muito rico, contra vontade de seu pai, que era mulher muito de esmolas, de nobre condição, pelo que, para o contentar, foi necessário dar-lhe muita fazenda e com o grande dote viveu sempre muito rico na vila da Ribeira Grande, com muita família de escravos e criados, onde faleceu; e houve de sua mulher sete filhos e quatro filhas. O primeiro, chamado João Tavares, casou com Luzia Gonçalves, filha de João Gonçalves, da Várzea, de que houve cinco filhos e duas filhas: o primeiro, o licenciado Rui Tavares que casou na cidade do Porto com Mécia Borges, filha de um cidadão dela, de que houve alguns filhos, e viuvando dela, casou em Viana com Violante Lopes, nobre mulher, parenta de Diogo de Morim, e viveu em Ponte de Lima, onde serviu de corregedor e lá faleceu, vivendo sempre com bom nome, honradamente. O segundo filho de João Tavares, chamado Gaspar Tavares, casou com uma filha de Duarte Fernandes e de Catarina Simões, morador em Rabo de Peixe e teve muitos filhos. O terceiro filho de João Tavares, chamado Manuel Tavares, casou a furto com uma filha de Afonso Roiz, de Rabo de Peixe, de que houve filhos e filhas; o qual foi extremado caçador e de grandes forças e habilidades. O quarto filho de João Tavares, por nome Baltazar Tavares, casou com Catarina de Figueiredo, filha de Lopo Dias Homem, cavaleiro do hábito de Santiago, e de Guiomar Alvres, de que tem dois filhos: Leonel Tavares e Baltazar Tavares, mancebos de grande virtude. E o dito Baltazar Tavares é também grande caçador de aves e tem o morgado que foi de seu avô Rui Tavares. O quinto filho, Belchior Tavares, casou com uma filha de João Cabral, de Vulcão, da qual tem muitos filhos e filhas, uma das quais casou com Manuel de Puga, sobrinho do licenciado Bertolameu de Frias. A primeira filha de João Tavares, Caterina Tavares, foi casada com o licenciado Miguel Pereira, fidalgo dos principais de Viana, da qual houve um filho que faleceu solteiro, e duas filhas: a primeira, Isabel Pereira, que casou com António Machado, da cidade da Ponta Delgada, de que tem filhos, um dos quais, por nome Diogo Machado Pereira, pelejou contra os imigos que vieram cometer a armada de Filipe, que estava surta no porto da cidade da Ponta Delgada, aos vinte e três dias de Maio de mil e quinhentos e oitenta e dois anos, onde matou cinco dos imigos e feriu muitos; foi por feitor de Goa, e capitão por três anos, com grande tença de Sua Majestade. A segunda filha de Caterina Tavares e de Miguel Pereira, que chamam Susana Pereira, casou com Miguel Pacheco, nobre fidalgo, que mora além de Santo António, na fazenda que lhe ficou de seu avô Pero Pacheco, como morgado, filho de Marcos Fernandes e de D. Filipa, filha de Pero Pacheco e de Guiomar Nunes; de que tem filhos e filhas ainda de pouca idade. A segunda filha de João Tavares, chamada Maria Tavares, foi casada com Ciprião da Ponte, dos nobres Pontes de Vila Franca, da qual houve uma filha, freira no mosteiro de Jesus da Vila da Ribeira Grande, onde ele é morador.
O segundo filho de Rui Tavares, Baltezar Tavares, foi tão grande cavaleiro, que quando ia correr e escaramuçar fora dos muros de Sevilha, onde então estava, o saíam a ver todos os cavaleiros e grande parte do povo, dizendo: vamos ver ao português; de cuja destreza se espantavam. Este casou com Maria Cabral, filha de Sebastião Velho Cabral, fidalgo da progénia dos Velhos, morador na cidade da Ponta Delgada, de que houve um filho, chamado João Cabral, que casou na vila da Ribeira Grande com Caterina Jorge, filha de Jorge Gonçalves Formigo, cavaleiro do hábito de Santiago, de que tem filhos ainda meninos; o qual tem a administração da fazenda da terça que ficou de Lianor Afonso, mulher que foi de Rui Tavares, seu avô, que é como morgado. Teve mais Baltezar Tavares duas filhas: a primeira Isabel Tavares, casada com João do Monte, morador na Lomba, filho de Gaspar do Monte, nobre e rico e abastado, de que tem muitos filhos e filhas, como direi na progénia dos Montes.
A segunda filha de Baltezar Tavares, chamada Lianor Cabral, casou com Simão de Paiva, filho de Álvaro d’Orta e de Leonor de Paiva, da vila da Ribeira Grande, onde vive, de que não tem filhos.
O terceiro filho de Rui Tavares, por nome João Roiz Tavares, foi criado de el-Rei e bom cavaleiro, músico, discreto e gentil homem, e faleceu na Índia em seu serviço. O quarto, Gaspar Tavares, grande cavaleiro, que fez muitas sortes. O quinto, Garcia Tavares, grande cavaleiro, que também faleceu na Índia onde ele e seu irmão fizeram grandes coisas em serviço de el-Rei, até morrerem em uma batalha. O sexto, Fr. Paulo Tavares, religioso da ordem de S. Domingos, pregador de muita virtude e exemplo. O sétimo, Pero Tavares, também bom cavaleiro, casou na vila da Ribeira Grande com Maria de Paiva, filha de João Fernandes de Paiva e de Francisca Pires, de que não houve filhos. E todos estes irmãos foram dos melhores genetairos que houve nesta ilha. E teve também Rui Tavares um filho natural, chamado Agostinho Tavares, bom sacerdote, discreto e virtuoso.
A primeira filha de Rui Tavares, Guiomar Tavares, casou, contra vontade de seu pai, com António Correia, natural de Vila do Conde, enjeitando muitos e grandes casamentos, que lhe cometiam. Depois casou, segunda vez, com Mendo de Vasconcelos, nobre fidalgo, morador na cidade da Ponta Delgada, e de nenhum teve filhos.
A segunda filha, Isabel Tavares, casou com Diogo Nunes Botelho, contador que foi de todas estas ilhas, morador na freguesia de S. Roque, do lugar de Rosto de Cão, onde tem sua quinta, de que houve os filhos já ditos na geração de Nuno Gonçalves Botelho, filho de Gonçalo Vaz Botelho, chamado o Grande.
A terceira filha, Francisca Tavares, foi casada com Alexandre Barradas, de gente honrada, dos principais da ilha da Madeira, de que houve cinco filhos, já defuntos, e uma filha, chamada Maria Barradas, que casou com João Fernandes, dos nobres da vila de Alagoa, irmão de João Álvares Examinado, de que houve dois filhos e duas filhas; o primeiro filho, António Barradas, um dos melhores cavaleiros desta ilha, tão destro que parecia que nasceu sobre um cavalo, em que fazia muitas coisas notáveis, antre as quais foi subir a cavalo por quinze íngremes degraus, que sobem para a casa da audiência da vila da Ribeira Grande, onde era morador, e virando o cavalo em um estreito recebimento tornava a descer por eles; discreto e nobre fidalgo, casou com Catarina de Figueiredo, filha de Miguel de Figueiredo, fidalgo, morador na ilha de Santa Maria, e irmã do ilustríssimo senhor licenciado D. Luís de Figueiredo de Lemos, primeiro dayão da Sé de Angra, e vigairo geral e governador em todo o bispado, e agora benemérito Bispo do Funchal; o qual António Barradas faleceu sem ter filhos. O segundo filho, chamado Sebastião Barradas, é de pouca idade, como a segunda filha, Francisca Tavares. E a primeira, chamada Paulina Tavares, casou com Duarte Pires Furtado, também grande cavaleiro, morador primeiro no Telhal da Ribeira Seca, onde tem grande parte de sua fazenda, e agora na vila da Ribeira Grande.
A quarta filha de Rui Tavares, Maria Tavares, casou com Pero da Costa, filho de João d’Arruda da Costa, cidadão de Vila Franca, de que houve os filhos já ditos na geração dos Costas.
O terceiro filho de Fernão de Ãnes Tavares, chamado Henrique Tavares, bom cavalgador e benfeitor na República e feito cavaleiro em África, andando lá servindo a el-Rei, casou na vila da Ribeira Grande com Isabel do Monte, filha de João de Piamonte e de Leonor Dias, donde procedem os Montes, nobres cavaleiros de África, onde estiveram servindo a el-Rei; da qual teve oito filhos e três filhas. O primeiro filho de Anrique Tavares, chamaram Fernão Tavares, grande cavalgador, que foi casado com Ervira Marques, filha de Marcos Afonso, rico mercador na vila da Ribeira Grande, da qual houve um filho que faleceu na Índia e uma filha, chamada Isabel dos Arcanjos, boa religiosa no mosteiro de Jesus da dita vila.
O segundo filho de Henrique Tavares, chamado Simão, faleceu solteiro na ilha da Madeira.
O terceiro, Tomaz Tavares, faleceu em Sevilha, onde vivia honradamente, casado sem ter filhos. O quarto, Luís Tavares, muito nobre fidalgo e bom cavaleiro, casou com Isabel Vaz, filha de Pero Vaz, lealdador dos pastéis nesta ilha, de nobre geração, e de Helena Fernandes, filha de Fernando Afonso de Paiva, da qual tem estes filhos e filhas: o primeiro, Henrique Tavares, que casou em Santarém com Lianor de Paz, de que tem filhos de pouca idade; o segundo filho, Pero Vaz Tavares, casou com Isabel de Braga, de que tem filhos ainda meninos e é falecido; o terceiro, Fernão Tavares, casou com Margarida Dias, filha de Pero Fernandes e de Caterina Dias. O quarto, Francisco Tavares, casou em Vila Franca com uma filha de Pero de Freitas, cidadão da dita vila, de que tem filhos; o quinto, Simão Tavares, clérigo de missa, entendido e virtuoso. A primeira filha de Luís Tavares, chamada Maria Tavares, casou com Jordão Pacheco, filho de Manuel Vaz Pacheco, fidalgo, e de Caterina Gomes Raposa, de que tem filhos e filhas. A segunda, Apolónia Tavares, casou com um mancebo de boa geração, filho dos principais do Nordeste.
O quinto filho de Henrique Tavares, chamado Miguel Tavares, casou com Isabel Lopes, de que não houve filhos.
O sexto filho de Henrique Tavares é Francisco Tavares, grandioso de condição, discreto e bom cavaleiro; casou primeira vez, com Ana de Paiva, filha de João Lopes e de Maria de Paiva, filha de Álvaro d’Orta e de Lianor de Paiva, de que não houve filhos; e a segunda vez casou com Antónia Dias, filha de António Dias e neta de Pero Dias, da Chada nobre e rico, da qual houve seis filhas e três filhos, todos ainda solteiros e o maior deles dá de si grandes esperanças.
O sétimo filho de Henrique Tavares, chamado João Tavares, esteve nas Índias de Castela, muito rico, casado e é já falecido. O octavo, Manuel Nunes Tavares, que faleceu solteiro.
A primeira filha de Henrique Tavares, Ana Tavares casou com Francisco Pires da Rocha, filho de Duarte Pires, da Lomba, e de Ana Fernandes, de que tem filhos e filhas, que direi na sua progénia.
A segunda filha, Maria Tavares, casou com Gaspar Privado, filho de Diogo Martins, o Marquês, e irmão de Duarte Privado, sargento-mor na vila da Ribeira Grande, de que não tem filhos.
A terceira filha, Grismonda Tavares, foi casada com mestre João, cirurgião, natural de Viana, de que tem dois filhos: o primeiro, Gonçalo Bezerra Tavares, casou com Helena Cabral, filha do licenciado Sebastião Velho Cabral e de Maria de Paiva, de que tem filhos ainda pequenos; o segundo Adrião Bezerra Tavares, que dizem ser casado em Granada.
O quarto filho de Fernão de Ãnes Tavares, chamado Gonçalo Tavares, muito discreto, e bom cavalgador, amigo de concertos, e de muita virtude, foi servir el-Rei à África, à sua custa, no ano de mil e quinhentos e oito, com seus irmãos, Rui Tavares, e Henrique Tavares e outros homens nobres desta ilha, em companhia de Rui Gonçalves da Câmara, quinto Capitão desta ilha, segundo do nome, onde foram armados cavaleiros, e antre eles o dito Gonçalo Tavares, que no dito ano de mil e quinhentos e oito, aos nove do mês de Março, saiu de Arzila com o conde D. Vasco Coutinho, capitão e governador da dita vila de Arzila, em uma entrada que fez ao campo de Benacultate, em que se tomaram vinte e cinco mouros e mouras e muitos bois e vacas e outro muito despojo; e pelas coisas que fez em armas o dito Gonçalo Tavares, o fez então cavaleiro o dito conde; além de se achar também Gonçalo Tavares em outras cavalgadas e entradas, antre as quais foi uma nas aldeias d’Antemud, em que se tomaram cento e oito mouros e mouras, e muito outro despojo.
Casou o dito Gonçalo Tavares, nesta ilha, em Vila Franca do Campo, com Isabel Correia, filha de Martinhanes Furtado de Sousa e de Solanda Lopes, da qual, afora os falecidos, houve oito filhos e duas filhas: O primeiro, Miguel Tavares, que faleceu moço.
O segundo filho, o licenciado António Tavares, mui bom letrado, discreto e gentil homem, foi casado com Branca da Silva, filha de Sebastião Barbosa da Silva, nobre fidalgo; e indo a Portugal, por procurador desta ilha, lá o fizeram juiz de fora da cidade de Tavira do Algarve, da qual vindo buscar sua mulher, nunca mais apareceu, pelo que se suspeita que se perdeu o navio em que vinha. Houve de sua mulher dois filhos: o primeiro, Gonçalo Tavares da Silva, criado de el-Rei, que é agora capitão de uma bandeira na cidade da Ponta Delgada, discreto e músico, o qual casou com Isabel Cabral, filha de Estevão Alvres de Resende e de Maria Pacheca, de que tem filhos e filhas, todos solteiros. O segundo filho, Jordão da Silva Tavares, alferes da bandeira de seu irmão, de discretos supitos, e músico, casou com Brianda Cabral, filha de João Velho Cabral, de que tem filhos e filhas, como já tenho dito.
O terceiro filho de Gonçalo Tavares, Simão Correia, clérigo discreto, bom latino e bem entendido, foi primeiro beneficiado na vila da Ribeira Grande e depois prior de Rapa e de Mangoal, tendo de renda com estas igrejas oitenta mil reis cada ano, e lá faleceu em Rapa.
O quarto filho, Fr. Braz Tavares, de graciosos e discretos ditos, religioso da ordem de S.
Francisco, sacerdote de missa, faleceu no mosteiro de Santo Espírito, de Gouveia.
O quinto filho, Manuel Tavares Furtado, bom sacerdote, virtuoso, latino e bem entendido, e tem um benefício na igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela, da Ribeira Grande, aonde reside.
O sexto, Duarte Tavares, andando em casa do Conde de Portalegre, mordomo-mor, que o tinha já dado a el-Rei, e houvera de montar muito na corte pelas boas partes que tinha, deixou tudo, sendo mancebo, gentil homem e discreto, e se fez religioso em S. Vicente de Fora, de Lisboa; o qual, sabido pelo Conde e Condessa, que não queriam que ele fosse frade sem primeiro o fazerem a saber a seu pai Gonçalo Tavares, que nesta ilha fazia pelas coisas de sua fazenda e era de sua criação, o mandaram chamar do mosteiro e rogar ao seu guardião que o não consentisse nele, e trazendo-o com o hábito diante deles, zombando dele os criados do Conde, seus companheiros, os desenganou, que, por mais que fizessem e dissessem, não se havia de apartar de sua tenção; e logo escreveu a seu pai uma carta a esta ilha, em que dizia que ele queria servir a outro Senhor maior que el-Rei, de que ele maior galardão e maior honra esperava, pelo que se despedia dele, esperando de se não verem senão na glória. E d’aí desapareceu e sendo passados alguns anos, sem se saber dele mais que estava na Cartuxa, ou em Santa Cruz de Coimbra; até que Agostinho Imperial escreveu de Génoa a seu pai Gonçalo Tavares, seu compadre e amigo, que ao hospital de Génoa foram ter dois apóstolos, ambos mancebos, pregadores, muito católicos, portugueses, um dos quais se chamava Duarte Tavares, de S. Miguel, cujo companheiro morrera no dito hospital, e dissera que em outro hospital aí perto, no caminho, falecera o dito Duarte Tavares, de S. Miguel, os quais tinham por santos; e não é muito, porque quando ele contra sua vontade foi para casa do Conde, já bom latino, dizia muitas vezes que esperava de acabar no serviço de Deus. O sétimo, Jerónimo Tavares, nasceu mudo e surdo, mas é tão discreto que lhe não faltava senão a fala, que supre com sinais e acenos que faz, entendendo os que lhe fazem, com que alcança as coisas de nossa santa fé, tão inteiramente como qualquer pessoa discreta que souber falar e ouvir; e os mistérios da Encarnação, Nascimento, Morte e Paixão e Ressureição e Ascensão do Filho de Deus, e a vinda do Espírito Santo, e que há Deus trino em pessoas e um em essência. O que vendo o Bispo D. Jorge de Santiago, e o modo e sinais com que mostrava ter esta notícia, lhe mandou dar o Santíssimo Sacramento d’ali por diante, negando-lhe d’antes os seus vigários; e com os mesmos acenos, se confessa muito bem, as vezes que quer, e pelas quaresmas, em que faz sua penitência; e sabe os dias santos, que vêm em diversos tempos, e as prerrogativas deles, dizendo por claros sinais que S. Sebastião é advogado da peste, Santa Luzia dos olhos, Santo Antão do gado e alimárias, S. Braz da garganta, Santo Amaro das pernas. S. João da cabeça e todas as coisas semelhantes. Se dele estão falando, sem olharem para ele, entende que nele falam, sabe conhecer e contratar com prudência, e o merecimento das pessoas e suas gerações e condições. Governa as coisas da lavrança e searas, como qualquer pessoa que fala; entende e joga a bola, e lavra os riscos também, como o melhor jogador do jogo, nem pessoa alguma o pode enganar; em partidos cumpre sua palavra a quem deve, pagando ao tempo que promete, e se não pode, dá sua escusa e pede espera. É muito loução de vontade e finge ser namorado; e é também agastado e colérico, mas dura-lhe pouco.
O oitavo filho de Gonçalo Tavares, chamado Sebastião Tavares, faleceu moço de nove anos.
Teve também o dito Gonçalo Tavares, de sua mulher Isabel Correia, duas filhas, a primeira chamada Guiomar Tavares casou por cartas, tratando o casamento um Simão Lopes d’Almeida, fidalgo, grande amigo de Gonçalo Tavares, que desta ilha fora, com um nobre homem do Cabo Verde, que chamavam António Fernandes, o Rico, e de lá a veio receber a esta ilha, donde a tornou a levar para a ilha do Fogo, onde ele estava por logotente do capitão dela, tendo este cargo muitos anos, até que faleceu no mar, ou se perdeu, indo de Lisboa para lá, levando muita fazenda e indo com a serventia da dita capitania. E depois faleceu ela na dita ilha do Fogo, ficando-lhe do seu marido estes filhos: João Fernandes Tavares, Pero Correia Tavares, Gonçalo Tavares, e uma filha, chamada Isabel Correia, que agora é casada com Luís Fernandes d’Ase, criado de el-Rei, de gente nobre de Évora, juiz dos órfãos na dita ilha, onde muitas vezes serviu de capitão, e é muito rico, sem ter filhos.
O primeiro filho, João Fernandes Tavares, casou com Isabel de Resende, filha do bacharel João de Resende, de que houve duas filhas, uma das quais casou com um rico homem da mesma ilha do Fogo, e a outra é ainda solteira. O segundo, Pero Correia, casou lá honradamente, também rico, e é grande cavaleiro. O terceiro, Gonçalo Vaz Tavares, faleceu solteiro.
A segunda filha de Gonçalo Tavares, chamada Joana Tavares, foi casada com Sebastião Jorge Formigo, criado de el-Rei, gentil homem, discreto, filho de Jorge Gonçalves Formigo, cavaleiro do hábito de Santiago, natural de Santarém, de que houve três filhos e três filhas. O primeiro filho, Tomé Jorge Formigo, muito manso, prudente e discreto, casou com Briolanja de Braga, filha de Diogo Fernandes, mercador, e de Catarina de Braga, moradores na vila da Ribeira Grande, de que tem filhos e filhas; e segunda vez casou com Catarina Meirinha, de que tem um filho de tenra idade. O segundo, António Tavares, que casou com Maria Lopes, filha de André Lopes, de que tem filhos e filhas. O terceiro, Duarte Tavares, muito discreto e gentil homem, casou com Lianor de Paiva, filha de Duarte Privado, juiz dos órfãos, na vila da Ribeira Grande, e de Margarida de Paiva, de que tem dois filhos e uma filha; são todos da governança da dita vila. A primeira e segunda filhas de Sebastião Jorge Formigo e de Joana Tavares faleceram de pouca idade. A terceira, chamada Maria Correia, casou com Manuel Botelho da Fonseca, fidalgo, filho de Manuel Lopes Falcão, cidadão de Vila Franca, e de Clara da Fonseca, de que tem dois filhos e uma filha.
A primeira octava de uma festa de Natal, na vila da Ribeira Grande, onde o dito Gonçalo Tavares morava, se revestiram no altar três filhos seus, sacerdotes: Simão Correia Tavares, prior de Rapa, o mais velho, cantou missa; Fr. Braz Tavares, após ele na idade, disse o Evangelho; Manuel Tavares, mais moço que eles, disse a Epístola; sendo seu pai e mãe presentes, o que acontecerá no mundo poucas vezes.
A primeira filha de Fernão de Ãnes Tavares, chamada Guiomar Fernandes Tavares, casou com Rui Lopes Barbosa, homem fidalgo, e dele houve os filhos ditos na geração dos Barbosas e Silvas.
A segunda filha do dito Fernão de Ãnes, por nome Filipa Tavares, foi casada com Luís Pires Cabêa, homem muito honrado, e houve dele três filhos: Afonso Roiz Tavares, João Roiz e Lucas Tavares; os dois mais velhos faleceram solteiros em Roma, sendo um criado do Papa e outro de um cardeal, ambos gentis homens e esforçados; e o mais moço foi em uma armada para o Brasil, onde casou e lhe ficaram filhos ricos, que lá moram. Teve mais a dita Filipa Tavares, filha de Fernão de Ãnes Tavares, de seu marido Luís Pires Cabêa, quatro filhas: a primeira, Breatiz Cabêa, foi casada com Fernão Vaz, mercador rico, morador na cidade da Ponta Delgada, de que houve três filhos e duas filhas: o primeiro, Simão Cabêa, provedor da fazenda de el-Rei em S. Tomé, e provedor dos defuntos, muito rico; os outros dois filhos, Pero Cabêa, e Jorge Tavares, em S. Tomé faleceram sem ter filhos; a primeira filha foi casada com João Gonçalves Perdigão, irmão do padre Hierónimo Perdigão, de que tem uma filha freira no mosteiro de Santo André de Vila Franca. A segunda filha de Fernão Vaz e Breatiz Cabêa, chamada Maria Tavares, casou com Francisco Vaz Maciel, natural de Viana, cidadão de Vila Franca e grande rico, de que tem muitos filhos e filhas. E a eles e a sua mãe ficaram, por morte do dito Francisco Vaz Maciel, quinze mil cruzados. O irmão da dita Maria Tavares, chamado Simão Cabêa, casando com uma filha do piloto-mor da carreira de S. Tomé, viuvou sem ter filhos, pelo que deixou a esta sua irmã, em sua vida, um morgado de cem mil cruzados, e por sua morte a seu filho Pero Cabêa.
A segunda filha de Luís Pires Cabêa e de Filipa Tavares, chamada Inês Tavares, casou com Diogo Dias Brandão, cidadão de Vila Franca, morador na Ponta Garça, onde tinha sua fazenda, da qual não houve filhos.
A terceira, Catarina Cabêa, foi casada com Belchior Gonçalves, chançarel em todas estas ilhas dos Açores, de que houve três filhos e duas filhas: o primeiro, Gaspar Gonçalves, ainda solteiro; o segundo, Belchior Cabêa, que faleceu solteiro em S. Tomé; o terceiro, João Tavares, benemérito cónego da Sé de Angra, homem de muita virtude e bom saber, merecedor de coisas maiores. Das duas filhas do dito chançarel uma é freira professa e a outra solteira, chamada Guiomar Cabêa, de muita perfeição e virtude.
A quarta filha de Luís Pires Cabêa e de Filipa Tavares, por nome Francisca Cabêa, foi casada com o bacharel Francisco Marques, de que houve um filho, que faleceu solteiro, e uma filha, chamada Marqueza do Espírito Santo, freira professa no mosteiro da cidade da Ponta Delgada, e daí foi para outro da cidade de Angra, onde esteve por vigaira, e agora é abadessa no mosteiro da ilha do Faial. Falecido o bacharel Francisco Marques, casou Francisca Cabêa, segunda vez, com João Lopes, rico e nobre mercador, natural de Tavira do Algarve, de que houve dois filhos e três filhas. O primeiro faleceu solteiro. O segundo está rico em S. Tomé; uma das filhas, chamada Inês Tavares, casou com Bertolameu Pacheco, filho de Manuel Vaz Pacheco, de que tem filhos. Outra foi casada com um filho de Jácome das Póvoas, de que não houve filhos; e outra faleceu solteira.
A terceira filha de Fernão de Ãnes Tavares, chamada Ana Tavares, foi em seu tempo a mais formosa mulher que da banda do norte nasceu, pelo que em sua mocidade lhe chamavam todos Estrela do Norte, a qual casou com António Carneiro, cidadão da cidade do Porto, primo com-irmão do secretário António Carneiro, pai de Pero d’Alcáçova, também secretário de el-Rei. Era este António Carneiro, marido de Ana Tavares, muito honrado, latino e discreto, e tinha menos um olho, que lhe quebraram em um jogo de canas; teve de sua mulher cinco filhos e duas filhas. O primeiro, Vicente Carneiro, foi vigário no lugar da Maia. O segundo, Manuel Carneiro, virtuoso, discreto e poeta, faleceu solteiro. O terceiro, Fr. António Carneiro, foi frade de S. Francisco, músico, tangedor e de muita virtude, o qual, sendo já de todo cego, cantava nos ofícios da Semana Santa as Paixões de cor, tendo o livro aberto e virando as folhas como homem que via, e somente disse duas missas, sendo já cego, com dispensação do Papa. O quarto, Fr. João Carneiro, também religioso da ordem de S. Francisco e pregador.
O quinto, Miguel Tavares, o qual sendo cego se fez doctor em medicina por ter grande habilidade; casou em Galiza com uma mulher fidalga, viúva, de que não teve filhos. E é para notar que todos os filhos machos nasceram mal vistos e vieram depois a cegar de todo; e as filhas, que eram duas, ambas nasceram e viveram com sua vista perfeita, sem nunca a perderem. A filha mais velha, Simoa Tavares casou com um João Lopes, filho de Álvaro Lopes, cavaleiro, de que houve uma filha, chamada Francisca Carneira casada com Bertolameu do Amaral, de que tem filhos de pouca idade. A segunda filha, Francisca Carneira, foi casada com António Fogaça, nobre e rico, natural do Porto, de que não teve filhos.
Estes três irmãos, Rui Tavares, Henrique Tavares e Gonçalo Tavares, tiraram seus brasões, que têm dos Tavares de Portalegre, de bons fidalgos, por serem filhos legítimos de Fernão de Ãnes Tavares, e netos de Fernão Tavares, de Portalegre, que foi do tronco da geração dos Tavares; cujas armas são estas: um escudo com o campo de ouro com cinco estrelas de vermelho em aspa e por diferença têm alguns uma flor de liz azul e outros outras divisas; elmo de prata aberto, guarnecido de ouro; paquife de ouro e de vermelho e por timbre um pescoço de cavalo vermelho, com a brida e guarnição de ouro, com falsas redes .