pau brancoPau‑branco (Picconia azorica (Tutin) Knobl.) .

Existem evidências fósseis históricas da existência do género Picconia no período Terciário no Sul da Europa. Este género, que actualmente apenas existe na Macaronésia, é representado nos Açores, pela espécie Picconia azorica (Tutin) Knobl. É uma planta endémica do arquipélago, da família das Oleaceae, considerada em perigo (IUCN, 2006), por se verificar um declínio contínuo de área, extensão e qualidade de habitat.

Trata‑se de uma espécie protegida pela Directiva Habitats 92/43/CEE – Anexo II e pela Convenção de Berna de 1995 – Anexo I. A Picconia azorica é, em termos comuns, conhecida por pau‑branco e existe em todas as ilhas do arquipélago, excepto na Graciosa.

A Picconia azorica, em termos de tipo funcional, caracteriza‑se por ser uma árvore perenifólia de folhas lanceoladas a ovadas, normalmente coriácias e glabras. As flores, normalmente brancas estão dispostas em pequenos cachos axilares e o fruto é uma drupa.

Em termos históricos, esta espécie foi referida pela primeira vez na região para as ilhas do Pico e S. Miguel por Seubert (1844), tendo sido então designada como Picconia excelsa DC. Foi inicialmente considerada próxima da Picconia excelsa (Ait.) DC. da Madeira e Canárias, sendo mais tarde revista por Tutin e aceite como uma nova entidade botânica, com a denominação Picconia azorica (Tutin) Knobl., Notizbl, Bot. Gart. Berlin 11: 1028 (1934). Começa então a ser conhecida nas ilhas de S. Miguel e Pico e mais tarde alarga a sua distribuição para as ilhas do Corvo e Flores.

O pau branco ocorre entre os 300 e 600 m de altitude em locais secos e abrigados (ou de média exposição a ventos). Actualmente as formações dominadas por esta planta são extremamente raras, existindo apenas (e ainda) alguns exemplos remanescentes, tal como no Varadouro na ilha do Faial, onde é possível encontrar exemplares relíquia com mais de 10 m de altura.

No entanto, referências históricas confirmam que eram formações originalmente bastante mais extensas na paisagem de algumas das ilhas. S. Miguel, por exemplo, é descrito do seguinte modo pelo cronista Frutuoso: “Estava esta ilha, logo quando se achou, muito cheia de alto, fresco e grosso arvoredo de cedros, louros, ginjas, sanguinho, faias, pau branco e outras sortes de árvores, e em alguns lugares estavam espaços de serra cobertos somente de cedros e outros de louros, outros de ginjas, outros de sanguinhos e alguns de teixos, outros de pau branco e outro de faias…”.

Estas florestas foram sujeitas, ao longo de mais de 500 anos de ocupação, a uma forte competição do Homem, primeiro porque se localizavam em lugares privilegiados para habitação, depois pela fertilidade dos solos que ocupavam e finalmente pela qualidade da sua madeira (existem referências à solidez da madeira de pau branco tornando‑a adequada para carpintaria) sendo usada para a manufactura de arados e carros, pela sua grande dureza.

Além destes factores há que se assinalar que a invasão que os enclaves sobreviventes sofreram pelo incenso (Pittosporum undulatum) levou à eliminação de extensas áreas de florestas naturais por quase todas as ilhas. Assim, excluindo as pequenas manchas semi naturais onde a Picconia ainda domina, esta espécie ocorre como estruturante em faiais (dominados por Myrica faya) e em florestas laurifólias mésicas, também estas formações pequenas e em baixo número de manchas.

Outro aspecto de interesse ecológico desta espécie é o facto das suas bagas serem utilizadas na alimentação de diversas espécies de aves, incluindo espécies protegidas como o pombo‑torcaz (subespécie endémica) e o priolo (espécie endémica), favorecendo este processo a dispersão da Picconia azorica.

 

In Espécies florestais das ilhas, Eduardo Dias, Carina Araújo, José Fernando Mendes, Rui Elias, Cândida Mendes e Cecília Melo
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teixoO Taxus baccata é uma espécie dióica, ou seja, com indivíduos femininos e masculinos distintos, que ao contrário da maioria das coníferas, é tolerante à sombra.

Possui uma ampla distribuição europeia, ocorrendo desde a Irlanda até ao norte do Irão, ocorrendo igualmente no norte de África e Ásia Menor. Esta espécie é muito abundante em florestas mistas da Europa Central, principalmente como espécie de sub‑bosque.

As formações puras desta espécie são bastante mais raras na Europa, apresentando uma distribuição pontual. No Reino Unido e na Irlanda estabelecem pequenos bosques, associados a solos mais secos ou mesotroficos. Em Portugal formam pequenos bosquedos que se encontram restringidos a alguns vales junto a linhas de água na Serra do Gerês e nas zonas montanhosas da Serra da Estrela.

A presença do teixo nos Açores no conjunto da Macaronésia, vem corroborar a hipótese de que esta região deveria ser separada em subregiões, com diferentes tendências bioclimáticas, formando os Açores uma subregião de tendência mais Norte‑Atlântica, com uma forte componente eurosiberiana ausente nos outros arquipélagos. As florestas de teixo encontrariam assim nos Açores um sub‑tipo endémico o qual se encontra extinto na actualidade.
Actualmente, o teixo só ocorre sob a forma de alguns indivíduos nas ilhas do Pico e Flores.

Contudo, esta espécie teria uma distribuição muito mais ampla no passado, sendo possível localizá‑las, através das descrições de Gaspar Frutuoso, nas ilhas de São Miguel, São Jorge, Pico, Faial e Flores. A espécie acorreria associada a florestas de laurissilva sendo, por vezes, uma importante espécie estruturadora dos ecossistemas, o que levanta a hipótese da extinção de uma outra tipologia de f loresta nos Açores.

As razões para a sua extinção parecem relacionar‑se com a sobre‑exploração da sua madeira, que era muito apreciada pela sua qualidade, sendo destino final o fabrico de mobiliário.

A qualidade da madeira era de tal forma apreciada que levou a que fosse sujeita ao controlo da Casa Real para o seu abate, razão pela qual passou a ser conhecida por pau‑da‑rainha, como já foi dito na segunda parte deste volume. Poucos indivíduos chegaram ao século XX. É também possível que existisse uma perseguição a esta espécie, mesmo aos indivíduos juvenis, que desapareceram por completo, logo que a pecuária ganhou importância nas zonas de montanha, pela elevada toxicidade que toda a planta apresenta.

Na verdade esta planta tem uma infrutescência muito interessante, formando a base de suporte do cone feminino, na maturação, um bago carnoso e suculento, de cor vermelha vivo e atraente, mas muito tóxico para a maioria dos mamíferos e quase inofensivo para as aves. No entanto, toda a planta possui substâncias tóxicas, quando ingeridas.

In Espécies florestais das ilhas, Eduardo Dias, Carina Araújo, José Fernando Mendes, Rui Elias, Cândida Mendes e Cecília Melo
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sanguinho plantaO sanguinho, de nome científico Frangula azorica V. Grubow é uma das árvores endémicas mais raras da Macaronésia. Endémica dos Açores e Madeira, estando aqui extinta na natureza, encontra‑se ocasionalmente em jardins. É uma espécie protegida pela Directiva Habitats e pela Convenção de Berna.

O sanguinho, que deve o seu nome à cor de sangue quer dos corantes que se extraíam da sua casca, quer à cor rosada da sua madeira aparece citado desde as primeiras descrições sobre a vegetação e flora dos Açores, como elemento das florestas naturais, pelo historiador Gaspar Frutuoso “há nelas muitas matas de Cedros, Loureiros e Faias, e um pau branco e outro amarelo, a que chamam sanguinho, e outro vermelho, chamado teixo, que se estimam muito por serem secos e pouco húmido pera escritório e obras marchetadas”.

É uma das primitivas madeiras açorianas utilizadas na carpintaria do arquipélago na época do cedro, mais concretamente no período de 1450–1550. A madeira é de cor avermelhada, leve, estaladiça, e de aspecto brilhante depois de preparada. A sua madeira também foi utilizada na construção civil, em vigas de tecto de comprimento considerável, segundo a informação oral gentilmente cedida pelo Dr. José Leal Armas, médico veterinário de Angra do Heroísmo que foi um dos maiores colecionadores de madeiras em Portugal.

O sanguinho tinha um papel nas práticas de silvopastorícia no início do povoamento, como informa Gaspar Frutuoso: “... o gado comia de toda a sorte e rama de azevinho, pau branco, sanguinho, tamujo e muitos queirós, que é muito baixo e folhados”. Os frutos desta planta também eram utilizados na alimentação humana, como se depreende da seguinte citação do mesmo cronista: “o sanguinho dá outro fruto como cerejas, muito doce, que embebeda”.

Do ponto de vista botânico, o sanguinho é uma árvore pequena ou arbusto alto que pode atingir até 12 m de altura (pelo menos em indivíduos actualmente vivos, dado que em tempos mais antigos poderiam existir indivíduos centenários de maiores portes) com uma coroa bem aberta; ramos pouco divididos, cobertos de folhas apenas na ponta; casca de cor vermelho‑acastanhado; folhas semi‑caducas (embora as folhas sejam anuais, a árvore apenas fica despida de folhas um curto tempo em Invernos rigorosos, enquanto na maioria dos anos a queda das folhas é posterior ao desabrolho), ovoides grandes (15 cm), veios laterais distintos, pubescentes na página inferior; flores pequenas solitárias pediceladas, vermelho‑acastanhado, floração em Maio; o fruto é uma baga de 0,8 a 1,2 cm de diâmetro, de vermelho vivo a preto brilhante quando maduro.

É uma planta, na sua ecologia, característica das florestas laurifólias dos Açores. Estas florestas caracterizam‑se por serem dominadas por espécies arbóreas, perenes, de folhas grandes glabras a sub‑glabras e coriáceas tipo louro. Esta planta é altamente sensível às alterações do meio provocadas pelo Homem, desaparecendo na maioria das paisagens humanizadas. Em meio natural, o sanguinho parece apresentar uma potente capacidade de propagação e cresce densamente, surgindo pequenos pés, com frequência em clareiras na floresta laurissilva, onde tem exigência por sítios muito abrigados e húmidos.

Esta espécie encontra‑se associada a condições de coberto arborescente estável. Quando em floresta natural, poderá ser considerada como indicadora de condições de equilíbrio. Actualmente aparece, quase sempre, em povoamentos muito esparsos, ou mesmo apenas plantas isoladas.
No séc. XIX foi referida como frequente até aos 900 m no Pico. Em meados deste século é apenas dada entre os 300 e os 600 m de altitude.
Actualmente é rara nos Açores, mas pode‑se observar que crescem desde do mar até à serra, em sítios húmidos e abrigados de floresta, em todas as ilhas com excepção da Graciosa e Corvo.

As principais ameaças são a destruição de florestas e matas, o corte de madeira, a invasão de exóticas como o incenso (Pittosporum undulatum), acácia (Acacia melanoxylon) e a conteira, roca‑da‑velha (Hedychium gardnerarum). No entanto a sua capacidade de regeneração estará francamente debilitada, fora das grandes manchas florestais, devido ao herbivorismo sobre as suas sementes, e sobre as suas plântulas realizado pelos coelhos, espécie introduzida nas ilhas com o seu povoamento e que tem vindo a atingir densidades preocupantes para a conservação da natureza, com claros impactos na flora endémica.

In Espécies florestais das ilhas, Eduardo Dias, Carina Araújo, José Fernando Mendes, Rui Elias, Cândida Mendes e Cecília Melo
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cedro do matoCedro‑do‑mato (Juniperus brevifolia (Seub.) Antoine)

Conhecido por cedro (erro comum na atribuição de nomes vulgares às coníferas de folhas curtas, designando‑as todas como cedros, embora pertençam a diferentes géneros), cedro‑do‑mato nas populações de montanha.

e de zimbro (nome português de facto para as espécies de Juniperus) nas populações de costa, esta espécie poderia, com toda a justiça, ser eleita como a planta que melhor simboliza as ilhas dos Açores.

As razões para esta afirmação baseiam‑se essencialmente, no reconhecimento de que é dominante ou co‑dominante em vários tipos de comunidades endémicas e de que a sua morfologia e fisiologia se encontram particularmente bem adaptadas ao meio ecológico dos Açores, sendo, por isso, a espécie com distribuição mais ampla, desde a beira‑mar até quase ao topo da montanha da ilha do Pico, o ponto mais alto de Portugal. O carácter dominante do cedro‑do‑mato é particularmente evidente nas florestas situadas acima dos 500 m de altitude (florestas de montanha ou florestas das nuvens) que correspondem a comunidades endémicas, onde a maioria das plantas vasculares são igualmente únicas dos Açores.

Estas comunidades têm também uma enorme importância na intercepção de nevoeiros (aumentando a recarga dos aquíferos) e na estabilização e formação do solo, sendo fontes importantes de biodiversidade, quer vegetal, quer animal. As primeiras descrições da vegetação natural dos Açores, na altura do seu descobrimento, revelam de uma forma geral ilhas cobertas por densas florestas.

Facto comum à maioria das descrições é a presença de cedro‑do‑mato, existindo desde o povoamento a referência a cobertos vegetais dominados apenas por cedros, em zonas de montanha. No entanto, a alteração antropogénica dos cobertos vegetais começou mesmo antes do povoamento, devido à introdução de todo o tipo de gado doméstico (ovelhas, cabras, porcos, cavalos e vacas) pelos navegadores. Com o povoamento veio a exploração directa dos recursos naturais, que rapidamente alterou os cobertos vegetais, principalmente em São Miguel e Santa Maria.

Quando os Açores se tornaram o eixo central das viagens atlânticas ocorreu uma intensa destruição da floresta natural para fomentar a produção cerealífera e fornecer madeira para reparar e construir barcos.

A exploração dos recursos florestais diversificou‑se e incluía: o uso da baga do louro (Laurus azorica) para fabrico de óleo com fins medicinais e de iluminação, o fabrico de carvão vegetal a partir, principalmente, da madeira de faia (Myrica faya), urze (Erica azorica) e cedro‑do‑mato (Juniperus brevifolia), mas também de louro, a exploração das plantas tintureiras como o dragoeiro (Dracaena dracco) e a utilização dos frutos de faia e uva‑da‑serra (Vaccinium cylindraceum) para fabrico de compotas.

O cedro‑do‑mato terá sido provavelmente uma das espécies arbóreas mais exploradas, uma vez que, para além do fabrico de carvão vegetal, esta espécie era usada para fins variados, de que são exemplo o fabrico de galochas, medidas para cereais, colheres, fechaduras e principalmente mobiliário civil e arte sacra.

As florestas naturais foram também destruídas para implantação de cana‑do‑açúcar e de pastagens. De facto, desde o período do pré‑povoamento, que a floresta natural serviu de alimento para o gado, mas com o povoamento esta exploração dos recursos florestais aumentou, devido não apenas à actividade directa de herbivoria mas também à recolha de folhagem. No entanto, a destruição das florestas naturais para implantação de pastagens assumiu maior dimensão apenas no século XX, particularmente nas zonas de maior altitude.

Actualmente, o cedro‑do‑mato distribui‑se por todas as ilhas dos Açores, com excepção da Graciosa. No entanto, a análise mais detalhada da distribuição em cada ilha revela que em Santa Maria a espécie está à beira da extinção. Aliás, de uma forma geral a J. brevifolia sofreu um acentuado declínio desde o povoamento das ilhas açoreanas e a sua distribuição actual é certamente muito menor do que a distribuição potencial, particularmente, para além das ilhas já citadas, em São Miguel, no Faial e no Corvo.

No Pico, apesar de a situação aparentar ser boa, o facto é que em grande parte da área de ocorrência as comunidades de Cedro‑do‑mato estão extremamente fragmentadas devido à implantação de pastagens, particularmente no Planalto da Achada, a Este da montanha. Situação semelhante acontece em São Jorge, na zona do Topo. No entanto, é na ilha do Pico que podem ser encontrados os melhores exemplos de populações costeiras de cedro‑do‑mato, principalmente no extremo leste e entre o Cachorro e o Cais do Mourato, na zona noroeste.

Nas ilhas Terceira e Flores encontram‑se ainda grandes áreas naturais ocupadas por comunidades dominadas por esta espécie, principalmente acima dos 500 m de altitude.

Nas zonas de montanha a Juniperus brevifolia assume um papel preponderante nas comunidades florestais, sendo mesmo a única espécie arbórea nos bosques de cedro e nos bosques de cedro com turfeira. Assim, seria muito provável que na ausência desta espécie muitas áreas montanhosas dos Açores fossem ocupadas por matos ou prados de montanha.

A ausência de coberto florestal resultaria necessariamente numa menor intercepção de nevoeiros, numa menor recarga de aquíferos e de corpos de água livre e na menor estabilização dos solos, assim como num aumento do risco de eutrofização de ribeiras e lagoas. Por outro lado, mesmo em algumas florestas onde não é a única espécie arbórea, a sua ausência teria resultados catastróficos. Nas florestas de cedro‑azevinho, por exemplo, o declínio de Juniperus brevifolia tem como consequência o aumento da mortalidade e a diminuição da regeneração do azevinho (Ilex azorica), devido provavelmente ao aumento da exposição e alteração das condições micro ambientais.

O cedro‑do‑mato é também uma espécie essencial em sucessões primárias e em sucessões secundárias antropogénicas. De facto, a larga amplitude ecológica desta espécie reflecte‑se também na capacidade que possui de colonizar substratos recentes, sendo uma das principais espécies construtoras de comunidades.

Adicionalmente, Juniperus brevifolia, juntamente com Erica azorica (urze), é muitas vezes a primeira espécie arbórea a recolonizar áreas onde o coberto florestal foi destruído, sendo assim também uma das principais espécies reconstrutoras das comunidades florestais açorianas que foram alteradas pela acção do homem, principalmente acima dos 500 m de altitude. Por outro lado, nas zonas de maior altitude, acima do limite das árvores (timberline), esta é uma das espécies dominantes de muitos matos de montanha.

O cedro‑do‑mato é de facto uma espécie‑chave em muitas comunidades naturais dos Açores. O seu declínio teria consequências graves nos ecossistemas naturais, na qualidade e quantidade dos recursos hídricos, nos solos, na flora e fauna insulares. Actualmente, esta espécie e as comunidades por si dominadas, são protegidas a nível regional e internacional.

o entanto, muito tem de ser feito ainda ao nível da conservação das florestas de cedro, de forma a garantir a protecção das comunidades naturais existentes e o restauro ecológico das comunidades degradadas. Adicionalmente, as populações costeiras desta espécie devem merecer uma atenção especial devido ao facto de estarem extintas na maior parte das ilhas e de serem na sua maior parte semi‑naturais e ameaçadas pelas actividades humanas.

No seu hábito, pode aparecer como arbusto ou árvore, embora seja verdade que quase todas as populações existentes, na actualidade, sejam de arbustos resultado da exploração da sua madeira durante séculos.

A copa do cedro‑do‑mato tem a particularidade de ser formada por ramos terminais horizontais a erectopatentes, o que parece ser uma defesa face ao excesso de precipitação que ocorre em muitas das áreas de montanha que povoa. As suas folhas são muito pequenas, de 5,7 a 6,5 mm de comprimento (donde a designação de brevifolia), persistentes, linear‑lanceoladas a ovado‑lineares, acuminadas a obtusas, mucronadas.

As suas sementes amadurecem em cones subglobosos e baciformes (em forma de bagas) que, quando maduras têm elevado conteúdo em açúcares nas partes carnudas (7,8– 8,7 mm de diâmetro), tornando‑as apetecíveis para os pássaros.

No estudo do seu habitat, tem‑se verificado uma grande plasticidade, distribuindo‑se por solos litólicos, andossolos e andossolos ferruginosos, em domas e escoadas lávicas, e ainda depósitos piroclásticos.

Formando comunidades de matos costeiros, matos de montanha, matos pioneiros, matos secundários, florestas e bosques.

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faiaFaia‑da‑terra (Myrica faya Ait.).

A origem desta espécie remonta ao Mediterrâneo Terciário, facto documentado, quer pela existência de populações relíquia no continente, quer por elementos fósseis. A Myrica faya Ait. é uma árvore conhecida.  Os seus povoamentos naturais ocorrem nos Açores, Madeira, Canárias e populações localizadas em Portugal Continental. Nos Açores esta espécie arbórea chega a atingir 20 m de altura (excepcionalmente 15 e um diâmetro superior a 35 cm). Existe em todas as ilhas, normalmente perto do mar mas ocorre em laurissilva até 700 m de altitude.

A faia‑da‑terra possui peculiaridades ecológicas e morfológicas que lhe possibilitam comportar‑se como uma exploradora, conseguindo colonizar meios inóspitos como superfícies de lava, onde a carência de nutrientes, nomeadamente azoto, limita o crescimento vegetativo. A faia apresenta associações com fungos micorrizais, bem como nódulos de simbiose com uma bactéria fixadora de azoto (Frankia) que se desenvolve nas suas raízes e fixa azoto atmosférico permitindo à espécie colonizar a maioria dos habitats, mesmo em condições extremas de substrato.

No entanto o azoto captado (cerca de 4 vezes mais do que o normal) fica disponível não só para a faia mas para todas as espécies que eventualmente ocorram no local. Para controlar essa possibilidade, a faia desenvolveu uma outra estratégia “dominadora” do espaço, a alelopatia, ou seja dificulta a germinação de sementes e o crescimento de outras espécies uma vez que contém componentes químicos inibidores que se acumulam, a partir de restos de folhas e ramos, na superfície do substrato.

Embora apresente uma série de vantagens competitivas a Myrica faya tem vindo a perder a batalha do território a favor de dois intervenientes primordiais, o homem e o incenso, uma espécie vegetal exótica infestante (Pittosporum undulatum). A distribuição potencial das formações de faia é a faixa de baixa/média altitude em torno da ilha, de clima ameno, correspondendo à área de maior interesse para exploração humana, quer para construção, quer para actividades agrícolas, tendo estas contribuído sobremaneira para o desaparecimento e transformação das suas florestas.
Também a invasão progressiva do incenso nas florestas de baixa e média altitudes tem contribuído para a fragmentação das formações de faia.
A realidade actual desta espécie é o seu desaparecimento progressivo da paisagem açoriana. Os mosaicos de florestas com faia são ainda frequentes.
 contudo, na sua grande maioria, estão descaracterizados e sob o grave risco de uma completa extinção, se não ocorrer uma intervenção generalizada de combate ao incenso.
A história da utilização desta espécie nos Açores é bastante antiga e bastante diversificada também. É conhecido o uso de frutos silvestres de faia para fazer compota, bem como para o fabrico de carvão. Existem também referências históricas acerca do uso da casca da faia para o curtimento de couros.
Uns séculos mais tarde, nas ricas quintas da laranjeira dos Açores, repletas de história, a faia era usada como abrigo, protegendo as laranjeiras dos ventos. Ao longo dos tempos as pessoas foram optando por outras espécies, as chamadas de crescimento rápido, nomeadamente o incenso, para a construção das suas sebes, tendo contribuído para a sua dispersão. Uma recente e crescente consciência ambiental, um gosto e orgulho pelo que é da terra, associados a uma aposta das entidades oficias pela reprodução e venda de Myrica faya tem vindo a mudar as tendências.

Cada vez mais as pessoas procuram esta espécie contribuindo não só para a sua salvaguarda bem como para a recuperação de formas tradicionais do uso da terra.

Uma grande variedade de aves, incluindo a subespécie de pombo‑torcaz, endémica dos Açores, usam de uma forma não só sustentada mas também vantajosa, os recursos que a Myrica faya fornece, alimentando‑se das suas bagas e contribuindo assim para a dispersão natural da espécie na região.
Nos Açores, um dos locais em que a Myrica faya é natural, devido a uma série de factores, em que a acção do homem sobressai do ponto de vista negativo, as populações naturais de faia são cada vez mais raras e fragmentadas. A sua perpetuação no tempo implica uma necessidade de protecção e mesmo de intervenção directa. Noutro extremo, no Hawai, a faia foi introduzida por emigrantes açorianos e madeirenses nos finais dos anos 1800, com fins ornamentais e medicinais e representa actualmente uma das mais graves invasoras que ameaça a flora nativa da região.

A todo o momento sofremos as consequências da forma insustentável com que transformamos o meio ao longo dos séculos, às quais a mãe natureza tenta constantemente ajustar-se.

Por vezes o resultado é “apenas” a perca de biodiversidade mas a tentativa de harmonização pode surgir de uma forma agressiva como se de um aviso se tratasse.

In Espécies florestais das ilhas, Eduardo Dias, Carina Araújo, José Fernando Mendes, Rui Elias,
Cândida Mendes e Cecília Melo
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