Classificado como um queijo curado de pasta dura ou semi-dura, de sabor limpo, ligeiramente picante e aroma forte (propriedades que se acentuam com o envelhecimento) o Queijo São Jorge é um produto internacionalmente conhecido, cujas qualidades o distinguem em absoluto dos outros queijos portugueses.

Mantém-se a forma tradicional de fabrico e apresenta caracteristicas atribuíveis ao leite e, portanto à forma tradicional de maneio das vacas. Algumas características do produto:

Aspecto exterior: Formato: cilíndrica, regular;

Diâmetro: 25 a 35cm; Altura: 10-15cm; Peso: 8-12Kg.

Crosta de consistência dura, cor amarelo-escuro, bem formada.

Quanto à pasta apresenta uma textura firme, cor amarelada, com muitos olhos pequenos e irregulares e desigualmente repartidos na massa; cor amarelada; Aroma e Sabor: bouquet forte, limpo e ligeiramente picante; Gordura: 45% (queijo gordo); Humidade: 49% a 63% (pasta mole); Tempo mínimo de cura: três meses.

Caderno Especificações DOP Queijo São Jorge

Área geográfica de produção: Ilha de S. Jorge

Entidade Certificadora: Confraria do Queijo de S. Jorge

Agrupamento Gestor da DOP: UNIQUEIJO - União de Cooperativas Agrícolas da Ilha de São Jorge Beira - 9800 Velas São Jorge Telefone: 295 438274; 295 438377 Fax: 295 438378

 

{slide=Nota In: Produtos Tradicionais Portugueses|closed}

Particularidade
Queijo de leite de vaca, de pasta dura.

Descrição
Queijo curado fabricado com leite de vaca, de pasta dura ou semidura, de textura
fina, por vezes quebradiça, de cor amarelada e muitos olhos pequenos e irregulares,
desigualmente repartidos pela massa. Forma cilíndrica regular, de diâmetro
entre 25 e 35 cm e altura de 10 a 15 cm. A crosta é de consistência dura, de cor
amarelo-escura, por vezes com manchas castanho-avermelhadas, de aspecto liso
e bem formada. Peso entre 8 e 12 kg. Bouquet forte, limpo e ligeiramente picante.

História
Gaspar Frutuoso, o mais antigo cronista açoriano, escrevia o seguinte: «Há
nela muito gado vacum, ovelhum e cabrum, do leite do qual se fazem muitos
queijos em todo o ano, o que dizem ser os melhores de todas as ilhas dos
Açores, por causa dos pastos...», e invocava a especificidade dos queijos de
então, atribuindo-a, em parte, às características dos prados, abundantes nas
zonas de média e elevada altitude. Esta «dependência» é bem realçada por
Henrique de Sampaio e Castro Pereira da Cunha da Silveira, que refere a
importância para a produção leiteira da existência na pastagem das chamadas
«ervas de misturas» (uma consociação de gramíneas e leguminosas), cuja
preponderância em qualquer pasto é índice seguro da sua valia. As condições edafo-climáticas excelentes para a produção de pastagem e a introdução
na ilha, logo após a sua descoberta em meados do século XV, de gados
fizeram com que desde o início do seu povoamento os habitantes de então
recorressem ao fabrico de queijos como reserva alimentar. Não será difícil
admitir, como refere o Dr. José Leal Armas, que «… os flamengos, pessoas
de muita nobreza e recomendáveis serviços muito contribuíram para a
implantação e desenvolvimento da indústria de lacticínios nos Açores,
pois vieram encontrar nas zonas altas da sua nova Pátria (entre 1450 e
1466) um clima semelhante ao da sua terra de origem onde estavam habituados
a produzir carne, leite e lacticínios e tiveram influência no aparecimento
daqueles “primitivos” queijos». Também a páginas 285 da mesma
obra refere: «… o que fere a atenção do observador nesta ilha é a persistência
com que os jorgenses defendem o seu fabrico de queijo em pequenas
fábricas distribuídas ao longo de toda a extensão da ilha. Souberam adaptar-se
admiravelmente ao ambiente, conseguindo leite de boa qualidade, pois os
percursos do transporte desta matéria-prima, da pastagem à fábrica, são
sempre curtos e têm lugar em geral em zonas frias, de altitude, onde também
se processa, por via de regra, a cura do queijo». José Pereira da Cunha da
Silveira e Souza, Júnior, escreve: «Em S. Jorge, cognominada a terra do
queijo e onde há mais de um século se manipula industrialmente o leite
tem-se, em bem verdade, multiplicado o número de fabricantes...», o que
significa que já em meados do século XVIII o fabrico de queijo se expandira
bastante, exportando-se para as restantes ilhas dos Açores, conforme
confirmam os registos municipais. José Cândido da Silveira publica as contas
do Convento de S. Francisco das Velas e por elas se verifica que, no período
de 1709 a 1711, se fez, no referido convento, apreciável consumo de queijo
da terra e de queijo flamengo, bem como de 10 canadas de manteiga.
A referência a estes dois queijos comprova que já nesta altura havia um
queijo que se distinguia e se ligava muito às condições naturais da ilha.
O Queijo São Jorge toma, há cerca de 200 anos, a sua forma actual, cilíndrica,
volumosa, tipo roda, chegando-se a produzir alguns, por encomenda
especial, de tais dimensões e peso que eram necessários alguns homens
para os transportar, conforme relata Ernesto Rebelo. Esta citação é feita
por referência a uma oferta que o fidalgo Jorge da Cunha mandou fabricar
em S. Jorge para obsequiar o seu amigo, Bispo D. Joaquim Pegado de
Azevedo, que visitava a ilha do Faial.

Uso
Os seus usos são variadíssimos, desde os de culinária mais simples aos pratos
mais requintados, aos quais o queijo dá o «toque» de distinção. Casa com
um bom vinho tinto e, por excelência, com um vintage Porto. O seu
fondue é inesquecível.

Saber Fazer
Fabricado com leite de vaca, é coagulado com coalho animal, após adição de
lacto-soro (do fabrico anterior, como auxiliar de acidificação). Extraído o soro,
adiciona-se sal refinado à razão de 2,8%. No encinchamento coloca-se numa
das bases um selo de caseína numerado e um código de produtor que permitirá,
enquanto o queijo existir, determinar a sua idade e o fabricante. O queijo, após
prensagem, vai para maturação em condições de ambiente natural ou climatizado,
com temperatura de 12 a 140C e humidade relativa de 80 a 85%, durante
um tempo mínimo de 3 meses, para acabamento final. A temperatura de armazenagem,
transporte e comércio deve estar entre 0 e 100C.

Produção
Produzido na área geográfica constante do Decreto Regulamentar Regional
nº.o 24/86/A, correspondente à superfície total da ilha de S. Jorge. O estatuto de
Organismo Privado de Controlo e Certificação foi reconhecido à Confraria de
Queijo de S. Jorge pelo Aviso n.o A/IAMA/95/4, de 22/12, do Instituto de Alimentação
e Mercados Agrícolas. Existem actualmente 9 fabricantes, com uma produção
anual de cerca de 1800 toneladas. Reconhecida a Denominação de Origem pelo
D/SRAP/94/1, de 14/01, publicado em 01/02. Registada e protegida a Denominação
de Origem pelo Regulamento (CE) nº.o 1107/96, de 12/06.

In: Produtos Tradicionais Portugueses - Vol 3
Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural
Lisboa 2001


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capuchoOutras Denominações
Tomate Capucho ou «Rebuçado».

Particularidade
Baga que se apresenta com um aspecto semelhante ao de um pequeno tomate, inserido num invólucro acastanhado (capucho).

Descrição
Fruto da variedade Physalis peruviana L. (Cape Goosberry), rico em vitaminas A, B, C (60 mg/100 g ), com elevados teores de fósforo e ferro. É uma baga com um diâmetro de 1,5 a 3,5 cm, com várias sementes achatadas, assemelhando-se a um tomate em miniatura. O fruto está maduro quando o invólucro ou «capucho» está castanho e o fruto alaranjado. Tem um sabor peculiar que corresponde a uma mistura dos sabores de morango, kiwi e groselha, e o aspecto de pequeníssimo tomate quando livre do seu invólucro acastanhado.

História
O Capucho é originário dos Andes, especificamente do Peru. Em Portugal é conhecido por Capucho ou Tomate Capucho e nos Açores é conhecido por «Rebuçado». Em 1867, Edmond Goose, jardineiro do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, durante uma viagem aos Açores descreve várias plantas, entre as quais o Capucho. É uma planta subexpontânea nos Açores, aparecendo nas vinhas e pomares.

Uso
O fruto é consumido fresco ou em compota, conhecida por doce de capucho, havendo até uma pequena produção de doce enlatado que começou a ser fabricado pela Sociedade Corretora Micaelense, fundada no princípio do século XX por Cristiano Pacheco.

Saber Fazer
Existem plantações de Capucho ao ar livre. A planta é anual (se for podada, pode produzir durante 2 anos) e indeterminada (pode florescer em qualquer estação). Desde a sementeira até à primeira produção decorrem mais ou menos sete meses. A sementeira deve ser feita em Março/Abril, a plantação em Maio/Junho e a colheita no Verão/Outono.

Produção
Existem plantações em pequena escala em S. Miguel, as quais fornecem a indústria de conserva — compotas da Corretora. Esta produz cerca de 670 toneladas de doce por ano. Existem também plantações caseiras em pequena escala em todas as ilhas, sobretudo em S. Miguel. Atendendo a que se trata de uma planta espontânea, existem também, com grande frequência, plantas dispersas pelos campos de outro cultivo.


In: Produtos Tradicionais Portugueses - Vol 1
Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural
Lisboa 2001

pimenta_moidaOutras Denominações
Na ilha de S. Miguel é vulgarmente conhecida por Pimenta Vermelha, Pimenta da Terra ou simplesmente Pimenta.

Variantes
Pimenta salgada e pé de pimenta.

Particularidade
A pasta ou massa de pimenta malagueta é uma massa feita de pimenta malagueta, de cor vermelha, sabor intenso e picante.

Descrição
A Pasta de Pimenta é obtida por esmagamento de pimentos da espécie Capsicum sp., vulgarmente conhecidos por malagueta, oriundos da América Central. São diversas as variedades de pimento cultivadas nos Açores, nomeadamente a gaga e a pequena, esta com sabor picante não muito acentuado.
Daqui decorre a consequente variedade das designações, como pimenta malagueta com um sabor muito violento e distinta pelo seu aspecto fino e pontiagudo, a qual também é conhecida por corno de cabra.

História
De entre os vários condimentos utilizados pelo povo açoriano, a Pasta de Pimenta distingue-se pelo seu uso frequente e, em certa medida, exagerado. Vem de longa data o emprego deste produto na alimentação popular. Todavia, é de admitir que a sua utilização se tenha generalizado a partir do século XVI.

Carreiro da Costa cita, a respeito da pimenta malagueta, o Dr. Urbano Mendonça Dias: «Apanham-me pelo pé — Levam-me para o fabrico — Metem-me depois em moura — E assim para ali fico — Mas aquele que me furar — é a esse mesmo que pico.» Francisco Arruda Furtado refere a Pasta de Pimenta como condimento indispensável ao povo açoriano, sobretudo ao micaelense, servindo para «condutar» diversos pratos ou sendo comida apenas com pão de milho (o que constituía a base da alimentação do povo). A pimenta era também utilizada nos caldos de couves.

Uso
Mantém-se em boiões ao longo do ano, sendo utilizada em guisados, fritos e sopas, bem como nos enchidos de porco (morcelas, chouriços e linguiça). Nas casas mais pobres é utilizada para ajudar a «condutar» o peixe e o pão.

Saber Fazer
A Massa de Pimenta obtém-se segundo um modo de fabrico artesanal. Cortam-se as malaguetas ao meio, no sentido vertical. Retiram-se as pevides e o pedúnculo e moem-se num moinho próprio para o efeito. A massa obtida coloca-se em boiões de barro tapados com um pano onde se coloca bastante sal. O pé de pimenta obtém-se através da secagem ao sol das pimentas mais pequenas, que posteriormente são moídas. A pimenta salgada obtém-se cortando as pimentas e retirando as pevides, de modo semelhante ao usado para a Massa de Pimenta, sendo acondicionadas em balsas ou salgadeiras de barro.

Produção
A Massa de Pimenta é fabricada na maioria das casas das famílias açorianas. Existem 20 produtores de Massa de Pimenta os quais a comercializam quer em frascos quer sob a forma de pimenta salgada, avulsa.

In: Produtos Tradicionais Portugueses - Vol 3
Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural
Lisboa 2001

Apenas como referência, publicamos aqui o texto sobre a anona da Madeira, inserida no livro "Produtos Tradicionais Portugueses".

anonaParticularidade
Fruto subtropical, exótico, produzido na Madeira, de sabor característico e
muito agradável.

Descrição
Trata-se da espécie Anona cherimolia Mill., cujos frutos são volumosos, de
epiderme lisa (anona lisa) ou escamosa (anona de escamas). Os frutos lisos
possuem casca fina, com auréolas em forma de U, sem relevo; a polpa é condensada,
feculenta, dura e doce, com poucas sementes. Os frutos escamosos
têm casca grossa, com auréolas mais profundas e bordos relevados; a polpa é
sumarenta, branca, mole e bastante doce, de excelente qualidade. As sementes
de cor preta dispõem-se na polpa em número variável com o tamanho e tipo
de fruto. É um fruto muito apreciado pela população local e por todos os que
visitam a ilha.

História
A espécie Anona cherimolia Mill. é originária do Peru e Nova Granada. C. A.
Menezes refere que se trata de uma árvore de fruto que existe cultivada desde
remota data em muitas localidades da costa Sul da Madeira. A anoneira terá
sido introduzida na ilha da Madeira cerca de 1600, por madeirenses retornados
do Peru, de onde a planta é originária. São várias as referências documentadas sobre a existência da espécie Anona cherimolia Mill. na Madeira. Em 1897,
M. Grabham escreve no Journal of the Jamaica Agricultural Society: «...
many of the estates on the warm southern slopes of the island, formely
covered with vineyards, have now been systematically planted with cherimoya.
The fruits vary in weight between three and eight pounds, excepcionally
large ones may reach 16 pounds and over...». Ainda em relação à
excelência das características da Anona da Madeira, Sarmento escreve:
«... Percorrendo a obra imensa do botânico e horticultor George Dom, em
quatro grossos volumes — General History of the Dichlamydeous Plants
— onde são descritas 47 espécies de género Anona e algumas das variedades,
não se encontra nenhuma que possa coadunar-se às que pelas circunstâncias
privilegiadas do nosso clima, se aperfeiçoaram, sobrepujando todas as
outras...» e «... Em parte alguma, porém, encontrou o seu óptimo proporcionando-
lhe as melhores condições para a vida evolutiva, como na ilha da
Madeira que lhe deu luz, calor, terreno e humidade, que mais ambicionava
no conjunto...».
A posição da Madeira nas grandes rotas do comércio marítimo explica o
tráfego, sempre considerável, do porto do Funchal, onde aportavam inúmeras
embarcações que vinham buscar produtos que se destinavam aos mercados
flamengos e diversos portos do Mediterrâneo. Há referências datadas do
início do século XX sobre exportação de Anonas para Lisboa e Londres. No
n.o 2 do Boletim da JNF é publicado o «Movimento Comercial de Frutas da
Ilha da Madeira» (Janeiro e Fevereiro de 1941) que indica valores de expedição
de Anona, para o continente português, que rondam os 800 kg.

Uso
Pode ser consumida às refeições como sobremesa, ou a qualquer outra hora
do dia. É utilizada no fabrico de licores e na doçaria.

Saber Fazer
A cultura da anoneira pode ir até aos 550 m de altitude na costa Sul e até aos
280 m na costa Norte da ilha. Esta planta propaga-se por semente sendo, no
entanto, aconselhável proceder à enxertia para que se consiga uma
frutificação precoce e frutos de melhor qualidade. Na plantação utiliza-se um
compasso de 5 x 4 m. Os frutos devem ser colhidos ainda verdes porque se destacam
com facilidade quando maduros. Trata-se de um fruto sensível que deve
ser manuseado com cuidado.

Produção
Produzida exclusivamente na ilha da Madeira, nos termos do Despacho
n.o 212/98, da Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas, de 08/09,
publicado no Jornal Oficial da RAM, 2.a série, n.o 178, de 16/09/98. Reconhece
Anona da Madeira como Denominação de Origem. O estatuto de Organismo de
Controlo foi reconhecido à Comissão Técnica de Controlo e Certificação de
Produtos Agrícolas e de Géneros Alimentícios da Região Autónoma da Madeira.
As anoneiras novas produzem cerca de 100 a 200 frutos por árvore, enquanto
as adultas podem atingir os 1000 frutos por árvore. As produções regionais de
Anona rondam as 850 toneladas (produção estimada em 1991).

In: Produtos Tradicionais Portugueses - Vol 2
Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural
Lisboa 2001

inhame

Outras Denominações
Nalgumas ilhas do grupo Central chamam «cocos» aos inhames. Em S. Miguel dão o nome de «minhotos» aos inhames mais pequenos, geralmente produzidos na Bretanha e que são considerados os mais saborosos. Diz-se que este termo poderá ter a sua origem no francês mignon ou mignonne.

Variantes
Têm sido cultivadas três variedades de inhame: o branco, o roxo e o vermelho.

Particularidade
Rizomas cilíndricos, lenhosos, de casca estriada e de cor acastanhada.

Descrição
Os inhames que se consomem são os tubérculos da Colocasia antiquorum de Schott ou, segundo Linneu, a Arum colocasia, com tamanhos que vão dos 5 aos 10 cm de diâmetro e um comprimento em regra de cerca de 25 cm.

História
A cultura do inhame nos Açores remonta, pelo menos, ao século XVI. Frei Diogo das Chagas escreveu no seu livro Espelho Cristalino, em Jardim de Várias Flores (entre 1640 e 1646): «... tem boas e largas lavouras de inhames que se
chamam cocos, o dízimo dos quais eu vi arrematar um ano em 120$000 reis e às vezes rende mais». Em 1661, no Livro de Correições da Câmara Municipal do Concelho de Vila Franca do Campo, a folhas 147 diz-se: «... disseram também
que havia muitas terras em que se podia plantar inhames, que é grande remédio para pobreza… mandei que cada pessoa fosse obrigada a plantar ao menos meio alqueire de terra de inhames...» Na ilha de S. Jorge dá-se em 1694 o chamado
«motim da Calheta» que consistiu, essencialmente, na recusa dos inhameiros a pagar o dízimo sobre a produção. Em 1830 ainda vigorava o dízimo sobre os inhames pois em 14 de Dezembro desse ano a Câmara Municipal do concelho de S. Sebastião da ilha Terceira escreve à rainha dizendo: «… que abuso Senhora! o dízimo duma vaca parida, o dízimo do bezerro que ela cria (e pela estimativa) o dízimo da herva que ella come; o dízimo da ovelha, e da lã, o dízimo das cebollas, dos alhos, das abóboras, e dos bogangos, o dízimo dos inhames, plantados pelos regatos; e, finalmente, o dízimo das frutas e das madeiras...». As populações destas ilhas são, por vezes, apelidados de inhameiros, não só porque nessas regiões existem muitos, mas também porque deles fazem grande consumo. Em versos de 1880, compostos por José Pacheco da Achadinha, lê-se: «Nordeste, vila pedinte, Lomba da Cruz, estouvados. Na fazenda, os inhameiros, na Lazeira, os mal-trajados». Na década de 40, Nemésio
escreve: «… o Jorgense é inhameiro».

Uso
Alimento consumido, em tempos de fome, como substituto do pão, é agora muito apreciado pelos açorianos, que consomem os mais tenros cozidos apenas em água e sal. Usam-se também para fazer sopas e como acompanhamento quente ou frio da maioria dos pratos da cozinha açoriana, depois de cozidos e descascados ou fritos. Podem utilizar-se também para o fabrico do álcool.

Saber Fazer
Os inhames são cultivados normalmente em «lameiros» ou nas «fajãs», que são lugares húmidos não elevados. Também se cultivam em lugares secos, precisando então de ser regados em abundância. O inhame pode ser farinado, tendo existido uma pequena indústria rural destinada a produzir farinha para os aglomerados populacionais de emigrantes (por exemplo, EUA).

Produção
A produção é de cerca de 400 toneladas por ano.

In: Produtos Tradicionais Portugueses - Vol 3
Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural
Lisboa 2001