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Engº Moniz da Ponte


anoneira1A anoneira (Anona cherimola Mill),é uma fruteira da família das Anonáceas e é originária das zonas sub-tropicais da América do Sul, tendo sido introduzida nos Açores nos finais do século XIX, onde se adaptou muito bem ás condições edafo-climáticas das ilhas, sendo o seu fruto designado por “coração negro” ou “anona”.
Inicialmente eram multiplicadas por semente, tendo por este modo dado origem ao aparecimento de muitas cultivares ou variedades.

De todas as formas culturais existentes na ilha de S. Miguel, a variedade “ Pinha Larga “ foi a que apresentou características agronómicas e organolécticas de interesse, quer para os fruticultores quer para os consumidores locais.

EXIGÊNCIAS EDAFO-CLIMÁTICAS
Sendo uma fruteira sub-tropical a cultura da anoneira prefere Invernos suaves com ausência de geadas. Zonas com temperaturas estivais não superiores a 30ºC. Estação seca de quatro a cinco meses.

Ventos constantes e moderados na Primavera, que permitem a queda do polén ao agitar os estames sobre o estigma. A anoneira prefere os solos ligeiros, profundos e frescos. Solos com boa drenagem e bom arejamento e de reacção neutra ou ligeiramente ácidos.

Desde o vingamento até à maturação completa do fruto decorrem no mínimo 4 a 5 meses podendo ir até aos 8 meses. O momento ideal para a apanha do fruto corresponde à passagem da cor verde para um verde amarelado/pálido. A qualidade do fruto da anoneira encontra-se dependente de três factores:
Resistência da pele – para que haja as menores perdas possíveis. Os frutos com a pele lisa sofrem menos danos, pelo contrário, os frutos com protuberâncias requerem mais cuidados.

O Grau Brix – (determinação dos sólidos solúveis totais) estar bem correlacionado com o sabor dos frutos.

O índice de sementes –  É um factor qualitativo e representa a relação entre o número de sementes e 100 gramas de fruto maduro (peso mínimo aceite pela Norma de Qualidade). Quanto menor o Índice de Sementes maior é a aceitação comercial do fruto.

De acordo com a tabela Internacional proposta por Farré, J.M.M., são estabalecidas as seguintes categorias:

Menos de 7,5: Excelente; 7,5 a 10: Boa; 10 a 12,5: Corrente; Mais de 12,5: Má.


COMPORTAMENTO

A anoneira é considerada uma árvore de folha semi-caduca, porque na maioria dos locais onde é cultivada permanece sempre com folhas, ou seja as folhas velhas só caem quando emergem os novos rebentos.

O abrolhamento ou rebentação da planta ocorre em princípios de Abril e vai até Junho, conforme a altitude dos terrenos onde se localizam os pomares.
A anoneira apresenta polinização deficiente nas nossas condições climáticas, sobretudo se forem expostas a ventos marítimos, pois a salinidade existente no ar dificulta a fecundação. Por outro lado, em zonas onde a humidade relativa do ar seja baixa, a polinização também é afectada ao nível da receptividade do estigma. Estes dois aspectos podem fazer baixar a produção de fruta de forma muito significativa.

Quando as condições são desfavoráveis à polinização da anoneira, a percentagem de vingamento das flores em fruto situa-se entre os valores de 2% a 5%.
A fim de melhorar a polinização desta cultura, desenvolvem-se em alguns países trabalhos de polinização artificial, tendo em vista garantir, uma colheita satisfatória todos os anos, melhorar os calibres dos frutos e obter uma maior precocidade.

O início da floração na cultura da anoneira coincide com o abrolhamento, podendo estas duas fases do ciclo anual prolongar-se durante dois ou três meses. A ântese, ou abertura floral, verifica-se desde a parte superior da copa até à sua base, e desde a periferia até ao interior.

anoneira3A abertura floral caracteriza-se pelas pontas das pétalas ligeiramente separadas. Nesta fase a flor encontra-se no estado pré-feminino com os estigmas receptivos. A ântese coincide com as horas em que as temperaturas descem e a humidade relativa aumenta.

A flor da anoneira é hermafrodita e apresenta dicogamia protogínica, ou seja os orgãos femininos (pistilos) não amadurecem ao mesmo tempo que os órgãos masculinos (estames).

A duração da flor na fase feminina poderá estender-se de 1 a 4 dias, dependendo da temperatura ambiente. No estado masculino as pétalas passam a estar completamente abertas e o pólen é libertado, mantendo-se viável durante 24 horas.

Nos Açores a floração da anoneira prolonga-se de Maio a Agosto, dependendo da altitude e das condições atmosféricas onde a cultura se desenvolve. A auto-polinização ocorre quando a temperatura média do ar varia entre 16 e 20 graus centígrados, a humidade relativa do ar se encontra entre os 60 e 80 % e os ventos sejam constantes e moderados. A ineficácia dos agentes polinizadores (vento e insectos), faz com que surjam frutos pequenos e assimétricos.


PODAS

anoneira5A poda da anoneira é determinante para a produção das plantas e para o controlo da qualidade dos frutos. Na altura de se efectuar a poda de formação, que deve ser realizada nos primeiros 2 a 3 anos após a plantação, escolhe-se o sistema de condução que vai determinar o futuro desenvolvimento da planta.

Nos Açores é mais utilizado o sistema em vaso. Na altura da plantação a planta é atarracada a 60 ou 80 cm acima do nível do solo, deixando-se desenvolver 3 a 4 ramos inseridos em diferentes posições no tronco principal.

O compasso de plantação mais utilizado nos pomares da ilha de S. Miguel é de 7m x7m em quadrado dando uma densidade de 204 plantas por hectare.
Na poda de frutificação aplicada às árvores adultas, pretende-se manter o equilíbrio entre os ramos vegetativos e reprodutivos, e assim conseguir uma boa carga, beneficiando a qualidade e a quantidade de frutos.

A poda deve ser executada quando o terço superior da copa apresentar as folhas com cor amarelada, e antes de se iniciar a nova rebentação.
Devem ser eliminados os ramos interiores, os ramos secos, os indevidamnente situados, os enfaquecidos e ainda qualquer ramo que prejudique o bom desenvolvimento de outros ramos e os que tendem a alongar-se desmedidamente, atarracando-se estes principalmente com cortes sobre laterais.

Deste modo devem resultar copas baixas, protegendo-se assim as plantas e os frutos dos ventos fortes e facilitando a colheita dos frutos.
A poda da anoneira é efectuada durante os meses de Março a Maio, correspondendo à poda de Inverno. A poda em verde realiza-se durante os meses de Julho e Setembro.


MULTIPLICAÇÃO

anoneira12A multiplicação da anoneira faz-se por sementeira e enxertia. Quando se tem como objectivo a manutenção das características varietais das variedades seleccionadas, tem de se recorrer à propagação vegetativa e em particular à enxertia de garfo sobre porta-enxertos francos.

O tipo de enxertia mais utilizado é de “fenda cheia”, decorrendo durante os meses de Março a Maio.

Após a enxertia e quando o desenvolvimento da planta se mostrar adequado, deve ser escolhido o sistema de condução a adoptar na futura plantação do pomar.

 

A FERTILIZAÇÃO

A anoneira é exigente em alguns nutrientes, em particular Azoto, Potássio, Cálcio e Magnésio. Dado que o excesso de azoto pode levar ao rachamento do fruto ,a relação N/K2O deve ser na proporção 1:3 (Farré,J.M.).

Pela análise do solo pode-se averiguar das disponibilidades destes nutrientes, de modo a poder-se satisfazer as necessidades da cultura e corrigir os valores da acidez, permitindo assim um adequado desenvolvimento das plantas e melhores produções.

No que diz respeito a matéria orgânica, esta cultura beneficia da sua aplicação, contribuindo não só para a manutenção da fertilidade do solo, mas também melhora a qualidade dos frutos e as suas características organoléticas.


COLHEITA E CONSERVAÇÃO DO FRUTO

anoneira2O momento ideal para a apanha do fruto da anoneira corresponde à passagem da cor verde da epiderme para um verde amarelado/pálido, atingindo nesta altura a maturação e apresentando as escamas mais lisas. A época de colheita na ilha de S. Miguel decorre de Outubro a Maio conforme a zona onde se desenvolve a cultura.

A anona é um fruto climatérico, correspondendo esta fase a um acastanhamento da pele, aumento da respiração e consequentemente dos sólidos solúveis (18 a 24 Graus Brix) levando ao amolecimento da polpa.

O Fruto da anoneira tem uma perecibilidade bastante elevada, com baixa tolerância a choques mecânicos e às baixas temperaturas, que provocam danos nos frutos.

Os frutos armazenados a temperaturas entre os 7 e os 12 graus centígrados, e a uma humidade relativa da ordem dos 80% amadurecem normalmente e desenvolvem boas qualidades organoléticas se o tempo de armazenagem não for excessivo, ou seja se for da ordem dos 12 a 15 dias de acordo com as variedades. A técnica do enceramento dos frutos permite reduzir os danos provocados pelo armazenamento a baixas temperaturas.

Os frutos da anoneira expostos à temperatura ambiente amadurecem num prazo de 5 a 10 dias após a colheita, dependendo da temperatura ambiente, estado de maturação do fruto e do valor da humidade relativa.

A variedade “Pinha Larga” de S. Miguel tem um Índice de Semente de menos de 10 (bom a excelente), com uma produção média de 50 kg por árvore.


PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS NA CULTURA DA ANONEIRA

anoneira pragasANTRACNOSE Colletotrichum gloeosporioides Penz   A partir das primeiras chuvas dos meses de Setembro e Outubro, com valores de humidade relativa elevados, o fungo da “Antracnose” desenvolve-se a partir dos frutos ainda pequenos, do tamanho de uma noz, provocando pequenas manchas castanhas escuras que vão aumentando com o aparecimento da doença, e provocando por vezes o fendilhamento e perda do fruto, atacando também as folhas. O controlo desta doença faz-se recorrendo à aplicação de fungicidas homologados e também retirando das árvores as “múmias “ do ano anterior que ficaram petrificadas e penduradas nos ramos, devendo ser queimadas, pois são receptáculos dos esporos do fungo.

FUNGOS DO SOLO  As raízes da planta da anoneira são atacadas por dois fungos difíceis de controlar: Phytophtora cinamomii, e Armillaria mellea. Estes fungos provocam graves prejuízos nas raízes das anoneiras levando por vezes à morte das plantas. Os solos muito pesados e com pouca drenagem favorecem estas doenças.

COCHONILHAS  As cochonilhas são insectos que por vezes causam alguns prejuízos nos frutos e folhas da anoneira. As espécies mais frequentes são a Pseudococcus citri Risso ou cochonilha algodoeira, e a lapa preta ou Saissetia nigra (Bern). Ao segregarem uma melada instala-se posteriormente um fungo a “fumagina” (Fumago spp.) que desenvolve a ferrugem ou cinza, provocando prejuízos e desvalorizando comercialmente os frutos atacados. Estas pragas aparecem durante todo o ano, com maior incidência no período Outono/ Primavera, com condições favoráveis de temperatura e humidade. As caldas oleosas associadas às formulações de cobre ajudam a controlar estas pragas e doenças.

AS PRINCIPAIS DOENÇAS APÓS COLHEITA DOS FRUTOS
Após a colheita dos frutos alguns fungos patogénicos atacam os frutos, provocando a destruição da polpa e ficando impróprios para o consumo e comercialização. Os agentes patogénicos mais importantes são: Botrytis cinerea Pers.; Phomopsis vexans Harter.; Rhizopus stolonifer Lind.; Penicillium expansum Thom.; e a Alternaria Spp..

Estes fungos penetram por feridas abertas nos frutos, dando origem a podridões húmidas e de consistência mole. Estas podridões evoluem à medida que a temperatura aumenta. Dado não ser possível prevenir estas doenças com o recurso a temperaturas muito baixas, podem ser evitadas com o recurso a tratamentos por imersão em soluções fungicidas.


 


OUTRAS CARACTERÍSTICAS E  USOS

Na Madeira é uma fruta com denominação de origem protegida (“Anona da Madeira”) desde o ano 2000, com uma produção anual de 850 toneladas. Na medicina popular dos Açores o chá das folhas da anoneira serve para combater os níveis do colesterol alto e ácido úrico, aparentemente com excelente eficácia.

No México, a população rural tosta e descasca uma ou duas sementes, misturando o pó com água ou leite para tomar como um potente emético e catártico. Misturado com óleo, o pó é usado para matar piolhos e é aplicado em doenças de pele parasitárias. Uma decocção da pele do fruto é usada para aliviar a pneumonia.

A semente pode ser extremamente venenosa. É usada como insecticida.

O fruto pode ser fermentado para produzir uma bebida alcoólica (contém 13 gramas de açúcar por 100 gramas de fruto). Diversas pesquisas sugerem utilização anticancerígena. A decocção da casca é usada como um tónico e um remédio para diarréia. A raiz é mastigada para aliviar dor de dentes e uma decocção da raiz é utilizada para tratar a febre. A decocção das folhas é usada para tratar vermes e para tingir cabedal.

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